sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Sózinha em casa

Self-portrait, 2009

Despertou com a sensação que um peso que lhe comprimia o corpo e lhe tolhia os movimentos. Há algum tempo que sentia esse desconforto, dores que lhe invadiam o corpo e a alma. O quarto estava na penumbra. Depois de alguns momentos de hesitação levantou-se. Ao passar pelo espelho estancou. Mirou-se.
A casa estava em silêncio. Estava sozinha. Tinha tempo. Despiu-se. Olhou-se. Gostou do que viu. Olhou-se nos olhos. Ficou assim durante algum tempo. Pensava em tudo e em nada.
Aquelas dores não pareciam ser de causa física. Resolveu examinar-se mais minuciosamente. Sim, definitivamente, estava tudo normal.
Mas as dores continuavam. As dores continuam. Voltou a vestir-se. Resolveu tomar um banho de imersão. Água quente, sais de banho, música de fundo, bem baixinha… e ali ficou. Fechou os olhos.
Um je ne sais quoi de estranho pairava no ar! Olhou à volta e tudo lhe parecia vazio... um vazio cheio de silêncio... e de calma.... e de ausência.
Os momentos iniciais de desconforto transformaram-se de repente em apreensão. Não gostava da solidão. A solidão assustava-a, mas ao mesmo tempo convidava-a a fazer-lhe companhia... e à falta de melhor convite...
Piscava-lhe o olho, convidava-a para tomar café, para um passo de dança, oferecia-lhe um livro, dormia com ela...

1 comentário:

mfc disse...

Gostei da sinceridade com que escreveste este post.
Por vezes não é fácil dizer-se o que se pensa.
Parabéns e um beijo.