segunda-feira, 28 de abril de 2014

Minotauro

Póvoa de Varzim, 2014 © Adelina Silva

Este é o labirinto de Creta. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro, que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações como Maria Kodama e eu nos perdemos. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro, que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações como Maria Kodama e eu nos perdemos naquela manhã e continuamos perdidos no tempo, esse outro labirinto.


Jorge Luis Borges

sexta-feira, 25 de abril de 2014

25 de abril SEMPRE

Porto, 2014 © Adelina Silva

(A Salgueiro Maia)

Aquele que na hora da vitória
respeitou o vencido

Aquele que deu tudo e não pediu a paga

Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite

Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com a sua ignorância ou vício

Aquele que foi «Fiel à palavra dada à ideia tida»
como antes dele mas também por ele 
Pessoa disse

Sophia de Mello Breyner Andresen






Portugal 1974/75 - documentário

sábado, 19 de abril de 2014

Trama

Paris, 2012 © Adelina Silva

Duas linhas paralelas,
muito paralelamente,
iam passando entre estrelas
fazendo o que estava escrito:
caminhando eternamente
de infinito a infinito.

Seguiam-se passo a passo
exactas e sempre a par
pois só num ponto do espaço,
que ninguém sabe onde é,
se podiam encontrar,
falar e tomar café.

Mas farta de andar sozinha,
uma delas certo dia
voltou-se para a outra linha,
sorriu-lhe e disse-lhe assim:
«Deixa lá a geometria
e anda aqui para o pé de mim...»
(…)


José Fanha, in “Eu Sou Português Aqui”


sábado, 12 de abril de 2014

Tudo em mim ressuscita

Bruxelas, 2013 © Adelina Silva

Alma! Que tu não chores e não gemas,
         Teu amor voltou agora.
Ei-lo que chega das mansões extremas,
         Lá onde a loucura mora!

(...)

Porém tu, afinal, ressuscitaste
        E tudo em mim ressuscita.
E o meu Amor, que repurificaste,
         Canta na paz infinita!

Cruz e Sousa

domingo, 6 de abril de 2014

O meu olhar é azul

Sevilha, 2014 © Adelina Silva

O meu olhar azul como o céu 
É calmo como a água ao sol. 
É assim, azul e calmo, 
Porque não interroga nem se espanta ... 
Se eu interrogasse e me espantasse 
Não nasciam flores novas nos prados 
Nem mudaria qualquer cousa no sol de modo a ele ficar mais belo... 
(Mesmo se nascessem flores novas no prado 
E se o sol mudasse para mais belo, 
Eu sentiria menos flores no prado 
E achava mais feio o sol ... 
Porque tudo é como é e assim é que é, 
E eu aceito, e nem agradeço, 
Para não parecer que penso nisso...



Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXIII" 

sábado, 5 de abril de 2014

Vou-me embora

Bilbao, 2012 © Adelina Silva

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
(...)
Manuel Bandeira