Porto, 2010 © Adelina Silva
O silêncio que sai do som da chuva espalha-se, num crescendo de monotonia
cinzenta, pela rua estreita que fito. Estou dormindo desperto, de pé contra a vidraça,
a que me encosto como a tudo. Procuro em mim que sensações são as que tenho
perante este cair esfiado de água sombriamente luminosa que [se] destaca das
fachadas sujas e, ainda mais, das janelas abertas. E não sei o que sinto, não sei o
que quero sentir, não sei o que penso nem o que sou.
Fernando Pessoa, in "O Livro do Desassossego"