Lisboa, 2015 © Adelina Silva
Seguindo
os princípios científicos, a teoria
da catástrofe
integra o caos, como realidade,
no mundo
da ordem e do previsível. Se
encho uma
taça com vinho
espumante,
e olho para o que se passa
dentro
do líquido, as súbitas erupções de
bolhas em
pontos em que o líquido parecia
inalterável,
são uma amostra do que pode
suceder,
a cada instante, no cosmos. Aquele
astro que
brilha à nossa vista, esfumar-se-á
de súbito
caso um buraco negro o sorva; e
aquele
cume de ilha, algures no Pacífico, com
a verdura
exuberante de uma vegetação
que se
assemelha ao desenho de um hábil
explorador,
pode explodir numa erupção vulcânica
que nada
faria prever. Deste modo, diz-nos a Teoria,
o caos
está aqui, na ponta dos dedos, e talvez
algo
possa acontecer quando, ao chegar
ao fim do
poema, ponho um ponto final,
isto é,
um ponto que me parecia final antes
que um
erro do teclado, no computador, apague
tudo o
que escrevi, e me confirme a exactidão
da
catástrofe já não como teoria, mas como
pura
realidade.
Nuno
Júdice, in "O Fruto da Gramática"