Lisboa, 2015 © Adelina Silva
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Vinicius de Moraes
Em memória do meu amigo André (f. - 11.12.2015)
4 comentários:
Eu que sonho na horizontal e na vertical….
Eu que tenho os braços longos para que a minha alma possa abraçar as nuvens…
Eu que digo que nós não somos mortais, mas sim criaturas recicladas…
A noite vai continuar jovem na companhia das maçãs aladas…
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados…
Belos versos de Vinicius de Moraes em memória do seu amigo André.
Boas Festas para ti, Adelina. Faço votos para que tenhas uma bela quadra festiva cheia de alegria e amor ao pé da tua família e amigos.
Olá Micael. Também conheceu o André. Foi diretor na Escola. Infelizmente deixou-nos.
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