quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

És linda!


Paris, 2012 © Adelina Silva

(...)
estás tão bonita hoje.

os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.

os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

de encontro ao silêncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.


José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"

sábado, 25 de fevereiro de 2012

A Espera


Paris, 2012 © Adelina Silva

E toda a vida do homem, apesar de todos os adiamentos e paragens, não passa de um esperar a vida, a bela vida, a verdadeira, a nossa. Todo o presente e o possuído afigura-se-nos apenas um adiantamento para a nossa fome ou um mau prefácio de um livro maravilhoso. E, enquanto esperamos a vida, esquecemo-nos de viver ou vivemos sem economia e prudência, não pensando em destilar dos minutos de hoje, única propriedade certa, todo o sabor e substância.

Giovanni Papini, in "Relatório Sobre os Homens"

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Silêncio


Paris, 2012 © Adelina Silva

Assim como do fundo da música
brota uma nota
que enquanto vibra cresce e se adelgaça
até que noutra música emudece,
brota do fundo do silêncio
outro silêncio, aguda torre, espada,
e sobe e cresce e nos suspende
e enquanto sobe caem
recordações, esperanças,
as pequenas mentiras e as grandes,
e queremos gritar e na garganta
o grito se desvanece:
desembocamos no silêncio
onde os silêncios emudecem.

Octavio Paz, in "Liberdade sob Palavra"

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Porque é Carnaval


Póvoa de Varzim, 2012 © Adelina Silva

Mude, mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.

atribuído a Clarice Lispector,
mas de autoria de Edson Marques (http://Mude.blogspot.com)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Tudo é demasiado


Póvoa de Varzim, 2010 © Adelina Silva

As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.

Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente — claro muro
sem coisas escritas.

Deixa o presente. Não fales,
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.

Cecília Meireles

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Sonho de Criança


Vale de Pisão, 2012 © Adelina Silva

Musa dos olhos verdes, musa alada,
Ó divina esperança,
Consolo do ancião no extremo alento,
E sonho da criança;

Tu que junto do berço o infante cinges
C’os fúlgidos cabelos;
Tu que transformas em dourados sonhos
Sombrios pesadelos;
(...)
Machado de Assis, in "Falenas"

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Quem jaz?


Lisboa, 2011 © Adelina Silva

Quem jaz no grão sepulcro, que descreve
Tão ilustres sinais no forte escudo?
Ninguém, que nisso, enfim, se torna tudo;
Mas foi quem tudo pôde e quem tudo teve.

Foi Rei? Fez tudo quanto a Rei deve:
Pôs na guerra e na paz devido estudo.
Mas quão pesado foi ao Mouro rudo,
Tanto lhe seja agora a terra leve.

(...)
Luís de Camões, in "Sonetos"