domingo, 16 de junho de 2013

A Luz que vem das Pedras

Sintra, 2013 © Adelina Silva

A luz que vem das pedras, do íntimo da pedra,
tu a colhes, mulher, a distribuis
tão generosa e à janela do mundo.
O sal do mar percorre a tua língua;
não são de mais em ti as coisas mais.
Melhor que tudo, o voo dos insectos,
o ritmo nocturno do girar dos bichos,
a chave do momento em que começa o canto
da ave ou da cigarra
— a mão que tal comanda no mesmo gesto fere
a corda do que em ti faz acordar
os olhos densos de cada dia um só.
Quem está salvando nesta respiração
boca a boca real com o universo?

Pedro Tamen, in "Agora, Estar"

terça-feira, 11 de junho de 2013

O essencial é saber ver

Ericeira, 2013 © Adelina Silva

(...)
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensa.

Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de  Rebanhos"

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Schiu

Sintra, 2013 © Adelina Silva

(...)
– Ninguém sabia, mas nós estávamos ali.
Só os perfumes teciam a renda da tristeza
Porque as corolas eram alegres como frutos
E uma inocente pintura brotava do desenho das cores

Vinicius de Moraes

sábado, 8 de junho de 2013

Liberdade

Praia Grande, 2013 © Adelina Silva

Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impurezas,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

Sophia de Mello Breyner