terça-feira, 30 de dezembro de 2008

2008 is dead, long live 2009!!!!!

Autor: AC
Dimensão da Tela: 110cm x 80cm

Em final de ano de 2008, fiz um balanço e em jeito de despedida gostaria de deixar uns agradecimentos:
· Aos meus pais, que têm sido o meu pilar;
· Aos meus poucos amigos (os que o são de facto), que me aturam os humores, me prestam atenção, me puxam as orelhas, mas me dão alento para continuar o meu percurso;
· Àqueles em quem eu confiei e que me puxaram o tapete, porque me deram uma lição de vida e me ensinaram a valorizar a pessoa que hoje sou;
· Àqueles que me detestam, porque me ensinaram que não se pode agradar a todos, que as diferenças são bem-vindas e que a má-educação, a alvitez, a presunção, e o snobismo são coisas muito feias;
· E, finalmente, mas não por último, a todos aqueles que tentaram conhecer-me e que, não me conhecendo pessoalmente, me conhecem bem melhor do que alguns outros, que me conhecem no dia-a-dia, sem me conhecerem.
A todos vós… Um excelente ano de 2009!!!!!!!!!!!!!!

sábado, 27 de dezembro de 2008

Trapped

Gondomar, 2008 Adelina Silva
Quando um tordo não puder cantar nenhuma lua nova
Se todas as corujas não tiverem aprovado a sua voz
- e qualquer onda assinar sobre a linha ponteada
Senão um oceano é obrigado a fechar
(...)
Então acreditaremos nessa incrível
Humanidade inanimal (e não antes)
e.e.cummings, in "xix poemas"

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Tempo de recordar

Em tempo de todas as doçuras para além
Do que quer que a mente possa entender,
Recorda busca (esquecendo acha)

E num mistério a haver
(quando o tempo do tempo nos livrar)
Esquecendo-me, recorda-me

e.e.cummings, in "xix poemas"

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Azevinho

Gondomar, 2008 Adelina Silva
Há, na cultura americana, um ditado sobre um beijo debaixo de um arbusto de azevinho. Parece que beijar sob um azevinho é sinónimo de compromisso entre o casal.
Na antiga Roma, existiam três categorias para o beijo:
* osculum era um beijo na bochecha
* basium era um beijo nos lábios
* savolium era um beijo profundo
Hoje, apetecia-me dar-te um basium savolium sob o azevinho. Psiuuuttt! Psiuuuttt! Será que por telefone também conta?

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Afinal o que são as palavras?

Las palabras no pueden decir la verdad
La verdad no es decible
La verdad no es lenguaje hablado
La verdad no es un dicho
La verdad no es un relato
En el diván del psicoanalista
O en las páginas de un libro.
Considera, pues, todo lo que hemos hablado tú y yo
En noches de vela
En apasionadas tardes de café
- London, Astoria, Arlequín
Sólo como seducción
En el mismo lugar que las medias negras
Y el liguero de encaje:
Estrategias del deseo.

Cristina Peri Rossi, in "Estrategias del Deseo"

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Natal de 2008

Estamos em plena época Natalícia...
Acabei de ler uma entrevista do psicólogo Vitor Rodrigues, na revista Notícias Magazine. Diz ele: "É suposto ser uma época de partilha, de afectos, de intimidade, de rever os amigos e familiares, sem pressões nem obrigações. Podemos (...) dar presentes que sejam uma homenagem, que revelem afecto e atenção às necessidades do outro. E nao presentes bajuladores, calculistas, interesseiros, que se dão por obrigação social ou para receber algo em troca".
À afirmação do jornalista - "Dar afecto não é fácil"-, respondia: "Uma grande parte das pessoas ainda tem medo de abrir o coração. Têm medo de se aproximar dos outros, de ser sinceras e frontais, de dizer que gostam do outro, de construir algo em conjunto. Ainda vivemos, a muitos níveis, numa cultura de guerra, de distância e desconfiança. Às vezes (...) digo, em jeito de provocação, que há muitos homens que não têm 'tomates' para ter emoções. Falta-lhes a coragem para aguentar um sim ou um não".
Por isso, daqui faço um apelo aos Homens deste país que os têm bem no sítio... não tenham medo de dizer que gostam do outro. Digam-no! Gritem-no! EU GOSTO DE TI!
Nós agradecemos... Bem haja!

sábado, 20 de dezembro de 2008

Enfeitiçado


Caminhou uma vez mais no abismo da cidade
reconstruiu o corpo em andaimes de néon
abraçou-o
desde os alicerces à veia da noite telúrica
subiu
para não se sentir sozinho

era um corpo cuja amargura cegava quem o tocasse
ou nele pressentisse outro corpo prisioneiro
numa moldura enferrujada – juntos
o corpo e a sua imagem dormiam no lixo
como dois ossos abandonados sonhavam devagar
com a paixão que tinham


Al Berto, in "Vigilias"

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Amores à distância

Cuando mil quilómetros nos separan
- quilómetro más, quilómetro menos –
Y nos deseamos
En ciudades diferentes
Separadas entre sí
El cordón umbilical es el teléfono
Oigo tu voz
Me como tus vocales
Devoro tus eses e tu eles
Me palpita el sexo com tu risa
Nos contamos las cosas del día
“me ha entrado un apetito voraz”, me dices
Y enumeras una lista inverosímil de alimentos
Incompatibles entre sí
Pimientos verdes e chocolate
Empanadillas y lentejas
Arroz con leche y pisto.
En cambio yo no he conseguido comer nada
El estómago cerrado como una tapia
La tapia de tu ausencia
El hueso duro de los mil quilómetros de distancia.
Tú engordarás
Yo me volveré anoréxica
“un amor romántico”, anotarás en tu dietario
“una pasión autodestructiva”, sentenciaré yo,
Siempre pesimista
Y la Telefónica lucrará con nuestras ganancias
El cordón umbilical
El hilo estremecedor del cable
O el móvil, señores y señoras,
A veinticinco pesetas el mensaje.

Cristina Peri Rossi, in “Estrategias del Deseo”

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Dá-me um sinal

Pode nem ser sempre assim; e eu digo
Que se os teus lábios, que amei, tocarem
Os de outro, e os teus dedos fortes e meigos cingirem
O seu coração, como o meu em tempos não muito distantes;
Se na face de outro os teus suaves cabelos repousarem
Nesse silêncio que eu sei, ou nessas
Palavras sublimes e estremecidas que, dizendo demasiado
Ficam desamparadamente diante do espírito vozeando;

Se assim for, eu digo se assim for –
Tu do meu coração, manda-me um recado;
Que eu posso ir junto dele, e tomar as suas mãos,
Dizendo, Aceita toda a felicidade de mim.
Então, hei-de voltar a cara, e ouvir um pássaro
Cantar terrivelmente longe nas terras perdidas.

e.e.cummings, in “xix poemas”

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Obrigada...

Troia, 2008 Adelina Silva
"O meu corpo é o teu corpo, o desejo entregue a nós"
Despedir-me de ti, adeus um dia voltarei a ser feliz...
Triste é o virar de costas o último adeus, sabe Deus o que quero dizer.
Obrigado por saberes cuidar de mim, tratar de mim, olhar para mim, escutar quem sou...
E se ao menos tudo fosse igual a ti.
Excerto de uma música do Gift

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Voz numa pedra

Ericeira, 2008 Adelina Silva


Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento

Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do menstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe longe essa cidade futura
onde «a poesia não mais ritmará a acção
porque caminhará adiante dela»
Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhas como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdade
a machadada e o propósito de não sacrificar-se não construirão ao sol
coisa nenhuma
nada está escrito afinal
Mário Cesariny

domingo, 14 de dezembro de 2008

Diário da nossa paixão

Troia, 2008 Adelina Silva
A escrita é a minha primeira morada de silêncio
A segunda irrompe do corpo movendo-se por trás das palavras
Extensas praias vazias onde o mar nunca chegou
Deserto onde os dedos murmuram o último crime
Escrever-te continuamente… areia e mais areia
Construindo no sangue altíssimas paredes de nada

Esta paixão pelos objectos que guardaste
Esta pele-memória exalando não sei que desastre
A língua dos limos
(…)
Al Berto, in “Vigílias”

sábado, 13 de dezembro de 2008

Faz-me o favor

Faz-me o favor...

Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor -- muito melhor!--
Do que tu.
Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.

de "O Virgem Negra" por M. C. V.
(Mário Cesariny).

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Friends [will be friends]

Estive a arrumar as minhas caixas de correio electrónico: a arquivar correspondências nas devidas pastas, a apagar algumas, a abrir outras que ainda não tinha lido, a confirmar o que tinha enviado e para quem... enfim, uma trabalheira. Encontrei uma mensagem que em tempos enviei a algumas pessoas com quem a minha relação de amizade tinha sido ou estava ser posta à prova. Voltei a ler o texto...
"Procura-se amigo!

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é preciso que seja de primeira-mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objectivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.

Vinicius de Moraes"
Deixo aqui o texto para todos os meus amigos, aqueles que efectivamente me conhecem... me aceitam como sou, me escutam, me acompanham... e permitem que eu aja de igual modo.
Obrigada a todos!!!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Porto Triste

Porto, 2008 Adelina Silva
(...)
Que mau tempo estará a fazer no Porto?
Manhã triste, pela certa.
Oxalá que os poetas românticos do Porto
sejam compreensivos a pontos de deixarem
uma nesgazinha de cemitério florido
que é para os poetas românticos de Lisboa não terem de
recorrer à vala comum.
Mário Cesariny

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Eyes wide shut

Barcelona, 2008 Adelina Silva

(…)
A memória dos dias resiste no olhar de um retrato
Continuo só
E sinto o peso do sorriso que não me cabe no rosto
Improviso um voo de alma sem rumo mas nada me consola
(…)


Al Berto, in “Vigílias”

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Time after time

Barcelona, 2008 Adelina Silva
O tempo presente e o tempo passado
Estão ambos talvez presentes no tempo futuro,
E o tempo futuro contido no tempo passado.
Se todo o tempo é eternamente presente
Todo o tempo é irredimível.
O que podia ter sido é uma abstracção
Permanecendo possibilidade perpétua
Apenas num mundo de especulação.
T.S. Eliot, in“Burnt Norton – Quatro Quartetos”

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

[H]era eu?!

A minha miúda é alta de olhos duros e longos
Assim de pé, com as suas longas e duras mãos guardando
Silêncio no seu vestido, bom para dormir
É o seu longo e duro corpo cheio de surpresas
Qual branco arame electrificado, quando sorri
Um duro e longo sorriso isso às vezes faz
Crescer alegremente em mim ardentes comichões,
E o frágil ruído dos seus olhos facilmente aguça
A minha impaciência até à ponta – a minha miúda é alta
E tesa, com pernas finas tal qual uma trepadeira
Que passou a vida inteira num muro de jardim,
E vai morrer. Quando carrancudos vamos para a cama
Com estas pernas começa a lançar-se e a enroscar-se
À minha volta, e a beijar-me o rosto e a cabeça.
e.e.cummings, in “xix poemas”

domingo, 7 de dezembro de 2008

"Impensamental"

Ele não tem que sentir porque pensa
(os pensamentos de outros, entenda-se)
Ele não tem que pensar porque sabe
(que tudo é mau o que tu pensas bom)

e.e.cummings, in “xix poemas”

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

You're the one

Valongo, 2008 Adelina Silva

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Bom Dia!

Porto, 2008 Adelina Silva
Tocar tu lejanía en el aire,
o en las nubes que sorprenden el alba,
o en las distancias que miden los recuerdos.
Tocarte y no sentir la carne, sino el tiempo;
y no sentir el ser, sino la ausencia.
Tocarte en mi propia piel,
como si fueses tú.
Como si yo fuese
la ilusión de tu cuerpo,
o de tus labios.
Tocar la lejanía
y ver que todo es sueño,
excepto yo, que estoy en ti.

Jorge Juan Eiroa García

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Encontro-t[m]e

A-ver-o-mar, 2007 Adelina Silva

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco


Mário Cesariny