quarta-feira, 29 de junho de 2011

S. Pedro Poveiro


© Adelina Silva

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© Adelina Silva


Local: Bairro Norte, Póvoa de Varzim
Dia: Noite de S. Pedro, 2011



segunda-feira, 27 de junho de 2011

Similitudes


Lisboa, 2011 © Adelina Silva

O macaco se parece com o homem
a macaca parece mulher
algumas pessoas se parecem
outras pessoas se perecem com outras
(…)

Arnaldo Antunes

domingo, 26 de junho de 2011

Ai, Portugal, Portugal...


2011 © Adelina Silva

É possível falar sem um nó na garganta.
É possível amar sem que venham proibir.
É possível correr sem que seja a fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão.
É possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros.
Se te apetece dizer não, grita comigo: não!

(…)

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre, livre, livre.
Manuel Alegre

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Abismos


Lisboa, 2011 © Adelina Silva

Olho o Tejo, e de tal arte
Que me esquece olhar olhando,
E súbito isto me bate
De encontro ao devaneando —
O que é ser-rio, e correr?
O que é está-lo eu a ver?

Sinto de repente pouco,
Vácuo, o momento, o lugar.
Tudo de repente é oco —
Mesmo o meu estar a pensar.
Tudo — eu e o mundo em redor —
Fica mais que exterior.

Perde tudo o ser, ficar,
E do pensar se me some.
Fico sem poder ligar
Ser, idéia, alma de nome
A mim, à terra e aos céus...
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Sossego, só... sossego


Lisboa, 2011 © Adelina Silva

Aqui onde se espera
- Sossego, só sossego -
Isso que outrora era,

(…)

De reinar, mas guardando
- Sossego, só sossego -
O nome venerando...

(…)
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Uma e... outra


Atapuerca, 2010 © Adelina Silva

(...)
Pensando na minha hora derradeira,
Eu vi só entre nós sentada a Morte,
E ao pé de uma caveira, outra caveira.


Francisco Joaquim Bingre, in "Sonetos"

sábado, 11 de junho de 2011

Uma cidade...


Burgos, 2010 © Adelina Silva


(...)

Uma cidade
pode ser o nome
dum país, dum cais, um porto, um barco
de andorinhas e gaivotas
ancoradas
na areia. E pode
ser
um arco-íris à janela, um manjerico
de sol, um beijo
de magnólias
ao crepúsculo, um balão
aceso

numa noite
de junho.

Uma cidade pode ser
um coração,
um punho.


Albano Martins, in "Castália e Outros Poemas"

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Portugal


Apúlia, 2010 © Adelina Silva


Avivo no teu rosto o rosto que me deste,
E torno mais real o rosto que te dou.
Mostro aos olhos que não te desfigura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
Serás sempre o que sou.

E eu sou a liberdade dum perfil
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu destino
Que de antemão conheço:

Teimoso aventureiro da ilusão,
Surdo às razões do tempo e da fortuna,
Achar sem nunca achar o que procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no passado.


Miguel Torga, in "Diário X"

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Pirata


Magalluf, 2010 © Adelina Silva
Sou o único homem a bordo do meu barco
Os outros são monstros que não falam,
Tigres e ursos que amarrei aos remos
e o meu desprezo reina sobre o mar

Gosto de uivar no vento com os mastros
E de me abrir na brisa com as velas,
E há momentos que são quase esquecimento
Numa doçura imensa de regresso.
Sophia de Mello Breyner Andresen