sexta-feira, 30 de outubro de 2015

É o fim do caminho

Zambujeira do Mar, 2015 © Adelina Silva

(...)
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
São as águas de março fechando o verão
É promessa de vida em nosso coração

Cecília Meireles


domingo, 18 de outubro de 2015

Praia de Esquecimento

Póvoa de Varzim, 2015 © Adelina Silva

Fujo da sombra; cerro os olhos: não há nada.
A minha vida nem consente
rumor de gente
na praia desolada.

Apenas decisão de esquecimento:
mas só neste momento eu a descubro
como a um fruto rubro
de que, sem já sabê-lo, me sustento.

E do Sol amarelo que há no céu
somente sei que me queimou a pele.
Juro: nem dei por ele

quando nasceu.


David Mourão-Ferreira, in "Tempestade de Verão"


sexta-feira, 2 de outubro de 2015

...E o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso.

Troia, 2015 © Adelina Silva

(...)
Se o homem fosse, como deveria ser,
Não um animal doente, mas o mais perfeito dos animais,
Animal directo e não indirecto,
Devia ser outra a sua forma de encontrar um sentido às coisas,
Outra e verdadeira.
Devia haver adquirido um sentido do «conjunto»;
Um sentido, como ver e ouvir, do «total» das coisas
E não, como temos, um pensamento do «conjunto»;
E não, como temos, uma ideia do «total» das coisas.
E assim - veríamos - não teríamos noção de conjunto ou de total,
Porque o sentido de «total» ou de «conjunto» não seria de um «total» ou de um «conjunto»

Mas da verdadeira Natureza talvez nem todo nem partes.
(...)


Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"