terça-feira, 30 de dezembro de 2008

2008 is dead, long live 2009!!!!!

Autor: AC
Dimensão da Tela: 110cm x 80cm

Em final de ano de 2008, fiz um balanço e em jeito de despedida gostaria de deixar uns agradecimentos:
· Aos meus pais, que têm sido o meu pilar;
· Aos meus poucos amigos (os que o são de facto), que me aturam os humores, me prestam atenção, me puxam as orelhas, mas me dão alento para continuar o meu percurso;
· Àqueles em quem eu confiei e que me puxaram o tapete, porque me deram uma lição de vida e me ensinaram a valorizar a pessoa que hoje sou;
· Àqueles que me detestam, porque me ensinaram que não se pode agradar a todos, que as diferenças são bem-vindas e que a má-educação, a alvitez, a presunção, e o snobismo são coisas muito feias;
· E, finalmente, mas não por último, a todos aqueles que tentaram conhecer-me e que, não me conhecendo pessoalmente, me conhecem bem melhor do que alguns outros, que me conhecem no dia-a-dia, sem me conhecerem.
A todos vós… Um excelente ano de 2009!!!!!!!!!!!!!!

sábado, 27 de dezembro de 2008

Trapped

Gondomar, 2008 Adelina Silva
Quando um tordo não puder cantar nenhuma lua nova
Se todas as corujas não tiverem aprovado a sua voz
- e qualquer onda assinar sobre a linha ponteada
Senão um oceano é obrigado a fechar
(...)
Então acreditaremos nessa incrível
Humanidade inanimal (e não antes)
e.e.cummings, in "xix poemas"

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Tempo de recordar

Em tempo de todas as doçuras para além
Do que quer que a mente possa entender,
Recorda busca (esquecendo acha)

E num mistério a haver
(quando o tempo do tempo nos livrar)
Esquecendo-me, recorda-me

e.e.cummings, in "xix poemas"

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Azevinho

Gondomar, 2008 Adelina Silva
Há, na cultura americana, um ditado sobre um beijo debaixo de um arbusto de azevinho. Parece que beijar sob um azevinho é sinónimo de compromisso entre o casal.
Na antiga Roma, existiam três categorias para o beijo:
* osculum era um beijo na bochecha
* basium era um beijo nos lábios
* savolium era um beijo profundo
Hoje, apetecia-me dar-te um basium savolium sob o azevinho. Psiuuuttt! Psiuuuttt! Será que por telefone também conta?

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Afinal o que são as palavras?

Las palabras no pueden decir la verdad
La verdad no es decible
La verdad no es lenguaje hablado
La verdad no es un dicho
La verdad no es un relato
En el diván del psicoanalista
O en las páginas de un libro.
Considera, pues, todo lo que hemos hablado tú y yo
En noches de vela
En apasionadas tardes de café
- London, Astoria, Arlequín
Sólo como seducción
En el mismo lugar que las medias negras
Y el liguero de encaje:
Estrategias del deseo.

Cristina Peri Rossi, in "Estrategias del Deseo"

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Natal de 2008

Estamos em plena época Natalícia...
Acabei de ler uma entrevista do psicólogo Vitor Rodrigues, na revista Notícias Magazine. Diz ele: "É suposto ser uma época de partilha, de afectos, de intimidade, de rever os amigos e familiares, sem pressões nem obrigações. Podemos (...) dar presentes que sejam uma homenagem, que revelem afecto e atenção às necessidades do outro. E nao presentes bajuladores, calculistas, interesseiros, que se dão por obrigação social ou para receber algo em troca".
À afirmação do jornalista - "Dar afecto não é fácil"-, respondia: "Uma grande parte das pessoas ainda tem medo de abrir o coração. Têm medo de se aproximar dos outros, de ser sinceras e frontais, de dizer que gostam do outro, de construir algo em conjunto. Ainda vivemos, a muitos níveis, numa cultura de guerra, de distância e desconfiança. Às vezes (...) digo, em jeito de provocação, que há muitos homens que não têm 'tomates' para ter emoções. Falta-lhes a coragem para aguentar um sim ou um não".
Por isso, daqui faço um apelo aos Homens deste país que os têm bem no sítio... não tenham medo de dizer que gostam do outro. Digam-no! Gritem-no! EU GOSTO DE TI!
Nós agradecemos... Bem haja!

sábado, 20 de dezembro de 2008

Enfeitiçado


Caminhou uma vez mais no abismo da cidade
reconstruiu o corpo em andaimes de néon
abraçou-o
desde os alicerces à veia da noite telúrica
subiu
para não se sentir sozinho

era um corpo cuja amargura cegava quem o tocasse
ou nele pressentisse outro corpo prisioneiro
numa moldura enferrujada – juntos
o corpo e a sua imagem dormiam no lixo
como dois ossos abandonados sonhavam devagar
com a paixão que tinham


Al Berto, in "Vigilias"

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Amores à distância

Cuando mil quilómetros nos separan
- quilómetro más, quilómetro menos –
Y nos deseamos
En ciudades diferentes
Separadas entre sí
El cordón umbilical es el teléfono
Oigo tu voz
Me como tus vocales
Devoro tus eses e tu eles
Me palpita el sexo com tu risa
Nos contamos las cosas del día
“me ha entrado un apetito voraz”, me dices
Y enumeras una lista inverosímil de alimentos
Incompatibles entre sí
Pimientos verdes e chocolate
Empanadillas y lentejas
Arroz con leche y pisto.
En cambio yo no he conseguido comer nada
El estómago cerrado como una tapia
La tapia de tu ausencia
El hueso duro de los mil quilómetros de distancia.
Tú engordarás
Yo me volveré anoréxica
“un amor romántico”, anotarás en tu dietario
“una pasión autodestructiva”, sentenciaré yo,
Siempre pesimista
Y la Telefónica lucrará con nuestras ganancias
El cordón umbilical
El hilo estremecedor del cable
O el móvil, señores y señoras,
A veinticinco pesetas el mensaje.

Cristina Peri Rossi, in “Estrategias del Deseo”

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Dá-me um sinal

Pode nem ser sempre assim; e eu digo
Que se os teus lábios, que amei, tocarem
Os de outro, e os teus dedos fortes e meigos cingirem
O seu coração, como o meu em tempos não muito distantes;
Se na face de outro os teus suaves cabelos repousarem
Nesse silêncio que eu sei, ou nessas
Palavras sublimes e estremecidas que, dizendo demasiado
Ficam desamparadamente diante do espírito vozeando;

Se assim for, eu digo se assim for –
Tu do meu coração, manda-me um recado;
Que eu posso ir junto dele, e tomar as suas mãos,
Dizendo, Aceita toda a felicidade de mim.
Então, hei-de voltar a cara, e ouvir um pássaro
Cantar terrivelmente longe nas terras perdidas.

e.e.cummings, in “xix poemas”

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Obrigada...

Troia, 2008 Adelina Silva
"O meu corpo é o teu corpo, o desejo entregue a nós"
Despedir-me de ti, adeus um dia voltarei a ser feliz...
Triste é o virar de costas o último adeus, sabe Deus o que quero dizer.
Obrigado por saberes cuidar de mim, tratar de mim, olhar para mim, escutar quem sou...
E se ao menos tudo fosse igual a ti.
Excerto de uma música do Gift

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Voz numa pedra

Ericeira, 2008 Adelina Silva


Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento

Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do menstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe longe essa cidade futura
onde «a poesia não mais ritmará a acção
porque caminhará adiante dela»
Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhas como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdade
a machadada e o propósito de não sacrificar-se não construirão ao sol
coisa nenhuma
nada está escrito afinal
Mário Cesariny

domingo, 14 de dezembro de 2008

Diário da nossa paixão

Troia, 2008 Adelina Silva
A escrita é a minha primeira morada de silêncio
A segunda irrompe do corpo movendo-se por trás das palavras
Extensas praias vazias onde o mar nunca chegou
Deserto onde os dedos murmuram o último crime
Escrever-te continuamente… areia e mais areia
Construindo no sangue altíssimas paredes de nada

Esta paixão pelos objectos que guardaste
Esta pele-memória exalando não sei que desastre
A língua dos limos
(…)
Al Berto, in “Vigílias”

sábado, 13 de dezembro de 2008

Faz-me o favor

Faz-me o favor...

Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor -- muito melhor!--
Do que tu.
Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.

de "O Virgem Negra" por M. C. V.
(Mário Cesariny).

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Friends [will be friends]

Estive a arrumar as minhas caixas de correio electrónico: a arquivar correspondências nas devidas pastas, a apagar algumas, a abrir outras que ainda não tinha lido, a confirmar o que tinha enviado e para quem... enfim, uma trabalheira. Encontrei uma mensagem que em tempos enviei a algumas pessoas com quem a minha relação de amizade tinha sido ou estava ser posta à prova. Voltei a ler o texto...
"Procura-se amigo!

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é preciso que seja de primeira-mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objectivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.

Vinicius de Moraes"
Deixo aqui o texto para todos os meus amigos, aqueles que efectivamente me conhecem... me aceitam como sou, me escutam, me acompanham... e permitem que eu aja de igual modo.
Obrigada a todos!!!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Porto Triste

Porto, 2008 Adelina Silva
(...)
Que mau tempo estará a fazer no Porto?
Manhã triste, pela certa.
Oxalá que os poetas românticos do Porto
sejam compreensivos a pontos de deixarem
uma nesgazinha de cemitério florido
que é para os poetas românticos de Lisboa não terem de
recorrer à vala comum.
Mário Cesariny

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Eyes wide shut

Barcelona, 2008 Adelina Silva

(…)
A memória dos dias resiste no olhar de um retrato
Continuo só
E sinto o peso do sorriso que não me cabe no rosto
Improviso um voo de alma sem rumo mas nada me consola
(…)


Al Berto, in “Vigílias”

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Time after time

Barcelona, 2008 Adelina Silva
O tempo presente e o tempo passado
Estão ambos talvez presentes no tempo futuro,
E o tempo futuro contido no tempo passado.
Se todo o tempo é eternamente presente
Todo o tempo é irredimível.
O que podia ter sido é uma abstracção
Permanecendo possibilidade perpétua
Apenas num mundo de especulação.
T.S. Eliot, in“Burnt Norton – Quatro Quartetos”

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

[H]era eu?!

A minha miúda é alta de olhos duros e longos
Assim de pé, com as suas longas e duras mãos guardando
Silêncio no seu vestido, bom para dormir
É o seu longo e duro corpo cheio de surpresas
Qual branco arame electrificado, quando sorri
Um duro e longo sorriso isso às vezes faz
Crescer alegremente em mim ardentes comichões,
E o frágil ruído dos seus olhos facilmente aguça
A minha impaciência até à ponta – a minha miúda é alta
E tesa, com pernas finas tal qual uma trepadeira
Que passou a vida inteira num muro de jardim,
E vai morrer. Quando carrancudos vamos para a cama
Com estas pernas começa a lançar-se e a enroscar-se
À minha volta, e a beijar-me o rosto e a cabeça.
e.e.cummings, in “xix poemas”

domingo, 7 de dezembro de 2008

"Impensamental"

Ele não tem que sentir porque pensa
(os pensamentos de outros, entenda-se)
Ele não tem que pensar porque sabe
(que tudo é mau o que tu pensas bom)

e.e.cummings, in “xix poemas”

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

You're the one

Valongo, 2008 Adelina Silva

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Bom Dia!

Porto, 2008 Adelina Silva
Tocar tu lejanía en el aire,
o en las nubes que sorprenden el alba,
o en las distancias que miden los recuerdos.
Tocarte y no sentir la carne, sino el tiempo;
y no sentir el ser, sino la ausencia.
Tocarte en mi propia piel,
como si fueses tú.
Como si yo fuese
la ilusión de tu cuerpo,
o de tus labios.
Tocar la lejanía
y ver que todo es sueño,
excepto yo, que estoy en ti.

Jorge Juan Eiroa García

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Encontro-t[m]e

A-ver-o-mar, 2007 Adelina Silva

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco


Mário Cesariny

domingo, 30 de novembro de 2008

Agora no meu quarto

Barcelona, 2008 Adelina Silva

Oh meu Amor
encontrei-Te novamente
saí
para ir buscar um maço de cigarros
e ali estavas Tu
Curvei-me diante de toda a gente
e toda a gente rejubilou comigo
Perdi-me
nos olhos de um cão
que Te amou
O calor ergueu-me
O trânsito atirou comigo
nu para cima da cama
com um livro sobre Ti
e uma garrafa de água fria
Leonard Cohen, in "Livro do Desejo"

sábado, 29 de novembro de 2008

Onde estás?

Barcelona, 2008 Adelina Silva

Dizes que repito
Algo que disse antes. Vou dizê-lo de novo.
Digo-o de novo? A fim de lá chegares,
De chegares onde estás, de saíres de onde não estás,
Tens de seguir um caminho por onde não há êxtase.
A fim de chegares àquilo que não sabes
Tens de seguir um caminho que é o caminho da ignorância.
A fim de possuíres o que não possuis
Tens de seguir o caminho do despojamento.
A fim de chegares àquilo que não és
Tens de seguir pelo caminho em que não és.
E aquilo que não sabes é a única coisa que sabes
E aquilo que tens é o que não tens
E onde estás é onde não estás.

T. S. Eliot, in “Quatro Quartetos”

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Passeig de Gràcia

Barcelona, 2008 Adelina Silva
Río con menosprecio de la gloria.
Porque la gloria ¿qué es? Sólo un recuerdo. Amarrar a la tierra uno su nombre para que quede alzado firmemente
Cuando el viento del tiempo va pasando.
Si la gloria es recuerdo ¿vale, acaso, un nombre sin un cuerpo en el futuro? Si uno vive en su vida únicamente
Y uno muere a su vida cuando muere,
La gloria ¿para qué? También la tierra, como otro cuerpo más, morirá un día. Y tienen que pudrirse en su cadáver
Los nombres. Todo olvido para siempre. Río con menosprecio de mí mismo.
J.M. Fonollosa, in "Ciudad del Hombre: Barcelona"

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Há Mulheres como eu

Peniche, 2008 Adelina Silva
Há cidades cor de pérola onde as mulheres
existem velozmente. Onde
às vezes param, e são morosas
por dentro. Há cidades absolutas,
trabalhadas interiormente pelo pensamento
das mulheres.
Lugares límpidos e depois nocturnos,
vistos ao alto como um fogo antigo,
ou como um fogo juvenil.
Vistos fixamente abaixados nas águas
celestes.
Há lugares de um esplendor virgem,
com mulheres puras cujas mãos
estremecem. Mulheres que imaginam
num supremo silêncio, elevando-se
sobre as pancadas da minha arte interior.
Herberto Hélder

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Para ti

Certas palavras podem dizer muitas coisas;
Certos olhares podem valer mais do que mil palavras;
Certos momentos nos fazem esquecer que existe um mundo lá fora;
Certos gestos, parecem sinais guiando-nos pelo caminho;
Certos toques parecem estremecer todo nosso coração;
Certos detalhes nos dão certeza de que existem pessoas especiais,
Assim como você, que deixarão belas lembranças para todo o sempre.
Vinicius de Moraes

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Nas asas de um sonho

Póvoa de Varzim, 2008 Adelina Silva
Nunca é tarde para viver os sonhos.
Paulo Coelho, in "Crónica - Começar aos 70 anos"




sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Sabedoria

Porto, 2008 Adelina Silva

toda a ignorância escorrega para o saber
e de novo se arrasta para a ignorância:
mas o inverno não é para sempre, mesmo a neve
derrete; e se a primavera estragar o jogo, que fazer?
e.e.cummings, in "xix poemas"

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Dar tempo ao tempo

Póvoa de Varzim, 2008 Adelina Silva

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Ruptura

Póvoa de Varzim, 2008 Adelina Silva
nada é mais exactamente terrível do que
estar sozinho em casa, com alguém e
com alguma coisa
e. e. cummings, in xix poemas

sábado, 15 de novembro de 2008

A minha vida

A minha vida em túnicas

Passado um tempo
Não sabes dizer
Se é faltar-te
Uma mulher
Ou precisares
De um cigarro
E mais tarde
Se é noite
Ou dia
Então subitamente
Percebes
O momento
Vestes-te
Vais para casa
Acendes um
Casas-te

Leonard Cohen, in Livro do Desejo

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Reviver o Passado… com os olhos no presente

Estreou ontem nos cinemas o filme “Reviver o Passado em Brideshead”. Lembro-me de ter acompanhado a série há uns 25 anos atrás e de me ter encantado Charles Ryder (Jeremy Irons) e de me ter identificado com a Júlia. Na altura estava numa fase em que adorava ler romances da segunda guerra mundial, e esta história passava-se precisamente nos anos 40, numa Inglaterra aristocrática e em Oxford. O então oficial do exército inglês Charles Ryder recordava os tempos que tinha vivido em Brideshead como amigo e hóspede da família de Sebastian (colega universitário e irmão de Júlia) e do triângulo amoroso gerado.
Na minha saga de reviver o passado, pensando no presente, lembrei das “Pontes de Madison County”. O livro é de uma ternura comovente. Robert Kincaid e Francesca, uma mulher casada e com dois filhos, não estavam à procura de qualquer reviravolta nas suas vidas. Cada um já tinha chegado a um ponto da vida em que as expectativas pertenciam ao passado. Contudo, quatro dias depois de se conhecerem … o desejo e a paixão acontecem. Atraídos um pelo outro, partilham o amor pela beleza, pela aventura – as experiências dele são reais, enquanto que as dela existiram até então somente em seus sonhos. A atracção é intelectual, emocional e física, transcendendo todas as barreiras da moralidade e convenção.
Com sorte, mais cedo ou mais tarde, um amor destes acontece na vida de cada um. Para Robert e Francesca foi tarde, pois esta, por falta de coragem, não cede ao impulso de abandonar a família e fugir com Robert, pondo fim ao casamento e afastando-se dos filhos. Mas foi glorioso, porque vivido intensamente por ambos!
Pergunto-me, porque não? Será reprovável apercebermo-nos que alguém ainda nos dá atenção e que essa atenção pode ser retribuída? Será que nos temos de anular e viver em função de uma família?

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Luar outonal

Algures no céu, 2008 Adelina Silva

domingo, 9 de novembro de 2008

O meu inferno

Póvoa de Varzim, 2008 Adelina Silva

“O inferno dos vivos não é uma coisa que virá a existir; se houver um, é o que já está aqui, o inferno que habitamos todos os dias, que nós formamos ao estarmos juntos. Há dois modos para não o sofrermos. O primeiro torna-se fácil para muita gente: aceitar o inferno e fazer parte dele a ponto de já não o vermos. O segundo é arriscado e exige uma atenção e uma aprendizagem contínuas: tentar e saber reconhecer, no meio do inferno, quem e o que não é inferno, e fazê-lo viver, e dar-lhe lugar”.

Italo Calvino, in “As Cidades Invisíveis”

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O primeiro amor

- Mãe, preciso de falar contigo em particular.
Pelo seu ar tão compenetrado, a conversa era séria. Pensei logo que fosse algo relacionado com escola: TPCs por fazer, fichas de avaliação com uma nota abaixo das suas expectativas...
Então, olhando-me nos olhos foi dizendo:
- Sabes que há uma menina na minha sala de quem gosto... Escrevi um bilhete que vou pôr amanhã na sua mochila. Queria que o lesses e me desses a tua opinião.
Lá fui dizendo que não sei se deveria ler o que ele tinha escrito, pois isso é muito pessoal, ao mesmo tempo que me lembrava do meu primeiro amor, e de como teria gostado que me tivesse escrito o quanto gostava de mim.
Insistiu. - Por favor, lê!, estendendo-me o papel.
Li.
Surpreendeu-me a sua candura e a forma como expressava os seus sentimentos... Como deve ter pensado na forma como os expôr e de se expôr...
O meu filho é um corajoso. Não foge aos seus sentimentos.
A poucos dias do seu aniversário (18 de Novembro) a sua melhor prenda seria a atenção do seu primeiro amor!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Fala comigo

ELE MURMURA:
deixemos o sonho para quando os corpos se perderem
no excesso das imagens ou na sua imitação
eles simulam o amor

um olhar rápido pelo lugar abandonado
pressente-se ainda a fuga dos corpos
na aragem que limpa a casa
a memória poderá reconstruir tudo a partir das imagens
e do intenso cheiro a mato
por agora nada mais é visível
azul e mais azul e nenhuma mudança na paisagem
nenhum vestígio

as luzes apagaram-se o material foi guardado
o lugar adormece por baixo do bolor imutável
e no esquecimento
os actores caminham para o fim do filme

um gravador esquecido
regista os passos que se afastam devagar
não sabemos ao certo para onde

Al Berto, in “Trabalhos do Olhar”, 1976/82: Filmagens, 1980/81

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Difícil de entender(-te)

Talvez por não saber falar de cor, imaginei
Talvez por saber o que não será melhor, aproximei
Meu corpo é o teu corpo, o desejo entregue a nós...sei lá eu o que queres dizer.
Despedir-me de ti, "Adeus, um dia, voltarei a ser feliz."
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor não sei o que é sentir.
Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de entender.
Talvez por não saber falar de cor, imaginei.
Triste é o virar de costas, o último adeus sabe Deus o que quero dizer.
Obrigado por saberes cuidar de mim, tratar de mim, olhar para mim...
Escutar quem sou e se ao menos tudo fosse igual a ti...
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor não sei o que é sentir.
Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de entender.
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor não sei o que é sentir.
Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de entender.
É o amor que chega ao fim.
Um final assim, assim é mais fácil de entender...
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor não sei o que é sentir.
Se por falar, falei, pensei que se falasse é mais fácil de entender.
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor não sei o que é sentir.
Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de entender.

Gift

domingo, 2 de novembro de 2008

Outras feridas

Troia, 2008 Adelina Silva

traços de répteis incandescentes pelas dunas, hastes quebradas, excrementos geométricos sinalizando com rigor apertados caminhos
areias de cor indecisa
são bons estes lugares de cinza, para a solidão insuspeita dos pássaros
(...)

Al Berto, in Vigílias

sábado, 1 de novembro de 2008

Naufragar na praia

Comporta, 2008 Adelina Silva

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Quem se lixa(o)?

Póvoa de Varzim, 2008 Adelina Silva

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A mentira

Detesto mentiras. Costumo dizer a quem me rodeia (família, amigos, alunos, colegas, etc) que prefiro que me digam a verdade mais cruel do que uma mentira dourada e doce. Perdoo tudo... excepto a mentira.

Vem isto a propósito de que ontem, em conversa com o meu amigo e companheiro, comentei alguns dos comportamentos de pessoas que ele não conhece, mas que eu vou conhecendo... pelas mentiras que vão dizendo.

Jantavamos os dois... iamos comentando o nosso dia de trabalho. Falei-lhe de duas situações que tinha vivenciado, descrevendo o comportamento e as reacções das pessoas perante alguns factos, e que eu sabia, claramente, que não estavam a falar verdade. Nestas coisas há sempre que ouvir pelo menos duas fontes. Enquanto eu ia falando ele ia sorrindo e, finalmente, acabamos os dois a rir. Detesto que façam de mim parva, e quando me apercebo de que o estão a fazer, por vezes, vou deixando ir na onda, testando até onde o limite da falsidade daquela pessoa pode ir. É um exercício curioso...

Dizia há uns tempos a minha amiga: "Adelina, as coisas vêm longe, e tu já as estás a captar"... O povo diz: "Apanha-se mais depressa um mentiroso do que um coxo".

Falar a verdade, sem encobrimentos, omissões, meias verdades, faz parte dos nossos valores e da nossa educação. Fingir que não se é ou que se é, sem ser; que se sabe ou que não se sabe, sabendo; que se tem ou que não se tem, tendo... que aprendizagem podemos retirar daí?

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Corpo

Vuelvo a mi habitación desalentado.
Todo se muestra igual mas desconfío.
Quedo en la oscuridad sin atreverme
a volver a encarar al que detenta
el privativo espacio de mi cuerpo.

¡Ese con el que intentan suplantarme!
Yo no quiero ese cuerpo ni por sombra.
Exijo el cuerpo de antes, el que es mío,
el que consta conmigo en los retratos.

Este cuerpo no sirve. Cada día
pondrá dificultades a mi mente.
Me atará con tenaces ligaduras
a su propio existir que desconozco.

Corroerá el pensamiento, mis deseos
y todo lo que soy lo echará a un lado
para hacerme su esclavo. Y ya jamás
seré quién soy, he sido, quién sería
si me dieran más tiempo con mi cuerpo.

J. M. Fonollosa, "Destrucción de la Mañana"

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Waiting...












Estou, tal como o Jeremy, à espera... ups... já tenho a resposta! :-D
Uauuuuuuu! Iuuuuppppiiiii!!!!!!!!!!!!!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Relações

Ultimamente têm sucedido uma série de situações que me têm levado a reflectir sobre as relações humanas quer em ambiente "real" quer em ambiente "virtual". Qual a qualidade destas relações? O que é que os indivíduos procuram numa sala de chat? O que é que nos leva a adicionar endereços de pessoas que nem conhecemos? O que nos leva a manter uma conversa, que muitas das vezes nem nos interessa? Porque é que as pessoas dizendo-se desconfiadas, sempre vão confiando no outro?
Na verdade, a forma como construimos essas relações não me parece que seja tão diferente assim do mundo "real". Também aqui dizemos ao outro o que queremos que ele saiba, falamos como nos permite que falemos, desempenhamos o papel que queremos ou podemos desempenhar.
Qual o resultado? O que é que pode surgir daqui?

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Eis-me!

Vila Real, 2008 (c) Adelina Silva

Eis como me sinto:

Desprotegida

Nua

A afundar-me

Inerte

Cansada

Sozinha

Isolada

Perdida

Abandonada

Morta!

domingo, 19 de outubro de 2008

Há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
Alexandre O'Neill

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Sossegar

Gosto de sossegar como verbo transitivo. Sossegar só por si não chega. É mais bonito sossegar alguém. Quando se pede "sossega o meu coração" e se consegue sossegar. Quando se sai, quando se faz um esforço para sossegar alguém. E não é adormecendo ou tranquilizando, em jeito de médico a dar um sedativo, que se sossega uma pessoa. É enchendo-lhe a alma de amor, confiança, alegria, esperança e tudo o mais que é o presente a tornar-se de repente futuro. É o futuro que sossega. "Amanhã vamos passear" sossega mais que "Não te preocupes" ou "Deixa lá, que eu trato disso".
Sossegar não é dormir. É viver. Uma pessoa sossegada é capaz de deitar abaixo uma floresta. O sossego não é um descanso - é uma força. Não é estar isolado e longe, deixado em paz - é estar determinado no meio do turbilhão da vida. Sossegar é saber com que se conta, desde o azul do céu aos irmãos. O coração sossega em quem se conhece. Não há falinhas mansas que tragam o sossego dos gritos de uma pessoa com quem se pode contar. É um alívio.

excerto de Sossegar, in Explicações de Português (Verbos Irregulares), Miguel Esteves Cardoso

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Desisto

Este é um daqueles dias em que nos apetece desistir dos nossos projectos, da vida, de nós próprios. É uma melancolia que nos invade e entranha no corpo e na mente. É um cansaço de lutar para levar, aquilo em que nos comprometemos, a bom porto. É a triste constatação que, afinal, não vale a pena tanto esforço e tanto desgaste...
As resistências são tantas, os obstáculos surgem de onde menos se espera e as forças vão rareando. Finalmente, temos a certeza de que fomos vencidos.
De regresso a casa, bateu-me uma tristeza... Encostei o carro à berma. Parei. Apoiei a cabeça no volante e chorei. Não sei o que me deu... sentia-me apertada, com um nó. Estravazei tudo... em silêncio... na minha intimidade, num raro momento a sós comigo mesma. A maquilhagem desvaneceu-se. Olhei-me ao espelho. Ali estava o verdadeiro eu, completamente a descoberto, vulnerável, emocional.
Quem disse que eu era racional, quem?
Desisto de mim mesma.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Malditos mosquitos!

Não sei que é da mudança climática, mas quer-me parecer que os mosquitos, insecto irascível, se multiplicam de uma forma exponencial. Mal damos por isso, pumba... picada de mosquito! Não há Dum Dum, Raid, ou qualquer outro insecticida que dê cabo deles... Será que estão numa espécie de mutação de forma a criarem anti-corpos a quem os quer liquidar?

Mosquitos... insecto abominável! Esperam que estejamos a dormir e aplicam-nos a sua ferroada... Quando a sentimos, já é tarde demais...

Vai-te embora, oh mosquito!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O Bom Português

Póvoa de Varzim, 2008 Adelina Silva

domingo, 12 de outubro de 2008

Sapos... só em histórias cor de rosa

Vila Real, 2008 Adelina Silva
Ao longo da vida vão-se sucedendo situações que, pela sua complexidade, nos vão obrigando a “engolir sapos”. Confesso, que o acto de engolir um sapo é desagradável, incómodo, doloroso… Mas, como qualquer coisa, é imprescindível que se prove, para se ter a certeza de que não se gosta. Não gosto!
Mas, o facto de não gostar, não impede que de vez em quando não tenha de o engolir. Mais vezes do que as que gostaria…
O facto de ter de aturar a atitude autista de uns, o espírito egocêntrico de outros, a indiferença, a mentira, o efeito chiclete (mastiga e deita fora), os comportamentos completamente deslocados no tempo e no espaço… tudo isso, mais do que me fazer mal e me causar náuseas… obriga-me a engolir sapos…
A minha impulsividade, que já me criou alguns dissabores, faz-me ser mais refreada nas reacções. É como quem diz… a engolir sapos… O sapo está sempre presente… escondido… camuflado… e, quando se menos espera, zumba….

sábado, 11 de outubro de 2008

Dona de Casa desesperada

O dia tinha sido longo. A viagem para a casa onde costumava passar os fins-de-semana foi cansativa. Parecia que nunca mais chegava.
Cumprindo um ritual semanal, dirigiu-se à caixa de correio, que estava atulhada com envelopes e papelada diversa, abriu a porta, pousou a mala, deu uma volta pelo espaço vazio e silencioso.
Lembrou-se que não tinha pão para o pequeno almoço… Tirou a máquina de fazer pão do armário e pô-la a trabalhar. Enquanto esperava, ligou o PC portátil, leu os e-mails, colocou um post no blog e, finalmente, sentou-se no sofá. Pegou na papelada que tinha recolhido momentos antes e pôs-se a seleccioná-la. Deteve-se num catálogo de vinhos e queijos de um supermercado. Talvez por sugestão, dirigiu-se ao frigorífico, onde mantém sempre duas garrafas de vinho (uma de vinho branco e outra de tinto) e queijos diversos. Optou pela garrafa de vinho branco, que abriu. Pegou em três tipos de queijo, que colocou num prato. Procurou nos armários mini-tostas. Pôs tudo numa bandeja e sentou-se no sofá…
Sozinha, na calma relaxada de um fim de noite, finalmente sentiu que tinha tempo para si…
Por fim, enroscou-se no sofá, enquanto via um DVD que tinha escolhido: “Rapariga com Brinco de Pérola”. Adormeceu…

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Tempo e Espaço

Oviedo, 2008 Adelina Silva

Preciso de tempo...
Preciso de espaço...
Há que dar tempo ao tempo!
Há que dar tempo ao espaço...
Há que dar espaço ao espaço!
E há que dar espaço ao tempo.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Feira das Vaidades

Oviedo, 2008 Adelina Silva
Vaidade

Sonho que sou a poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!...

Florbela Espanca

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

It's all so quiet (schiu, schiu)

Oviedo, 2008 Adelina Silva
Ah, que saudades tenho do tempo que podiamos andar, descansar, ler, estudar, namorar, conversar, jogar, etc. num jardim público. Havia tantos locais no Porto... S. Lázaro (mesmo em frente à Biblioteca Municipal), Cordoaria, o Palácio de Cristal ... e tantos outros.
Nesses espaços públicos, as relações que se estabeleciam entre as pessoas (conhecidas ou desconhecidas) eram despreocupadas, desinibidas, tolerantes e, até mesmo, abertas.
Agora, quem povoa esses jardins? Quem se atreve a atravessá-los? Quem ousa sequer sentar-se num banco?
Eu, definitivamente, não!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

My fair lady

Oviedo, 2008 Adelina Silva

Ah Woody, Woody!

Oviedo, 2008 Adelina Silva

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O que faz falta?

Ericeira, 2008 Adelina Silva
Sinto um vazio... há um abismo... há uma falha... sinto a tua falta... Sinto que me estou a faltar.
Mas, afinal o que faz falta? Não tenho tudo o que sempre procurei? Porque me sinto assim?
O que faz falta?
O que faz falta é animar a malta, é o que faz falta!, cantava o Zeca Afonso.
Quando a corja topa da janela (...) Quando o pão que comes sabe a merda (...) Quando nunca a noite foi dormida (...) Quando a raiva nunca foi vencida (...) Quando nunca a infância teve infância (..) Quando sabes que vai haver dança (...) Quando um cão te morde a canela (...) Quando a esquina há sempre uma cabeça / O que faz falta /O que faz falta é animar a malta ....

domingo, 5 de outubro de 2008

Como te sentes?

Vila Real, 2008 Adelina Silva
Repetem a pergunta inúmeras vezes, quase sem pensar no que perguntam, sem querer saber a resposta, apenas porque acham que têm a obrigação de o fazer ou por qualquer outra razão... Pois querem mesmo saber??? Eu respondo, mas têm de me prometer que jamais repetirão a questão. Pronto, Ok, aqui vai:
- Eis como me sinto... a afundar.... enturpecida... hirta... estática... moribunda... com estalactites a ameaçar cair sobre a minha cabeça... Respondido???
Viremos a página!

sábado, 4 de outubro de 2008

Quero o divórcio!

Sabem daqueles dias em temos uma agenda planeada e, precisamente nesse dia, nada do que planeavamos fazer, fazemos? É que hoje não fiz nada mesmo, nadinha, zits, zero...
Claro está que também não fiquei (embora me apetecesse) de papo para o ar... à sombra da bananeira... Ah, isso não! Agora que é fim-de-tarde, à beira-mar, revejo o meu dia... C'um raio! Que andei eu a fazer este sábado todo o dia??? A viver a vidinha de uma doméstica (ou dona de casa)... arrumar, cozinhar, arrumar, limpar, estender e, finalmente, um tempinho para ir ao cabeleireiro... E revi-me em todas as mulheres que ali estavam...
Eu não quero esta vida para mim. Para continuar assim, eu exijo o divórcio já! E se a vida doméstica não concordar com o divórcio amigável, terei mesmo de avançar para o litigioso, com todas as implicações e consequências que daí poderão advir.
O que eu sei, é que não quero esta vida para mim. Eu mereço muito mais! Pelo menos tanto quanto eu me entrego à vida!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Enough is enough

Estou farta! Farta desta luta constante contra o tempo, contra o que está implicitamente instituído, contra as ideias conservadoras de uns, contra a coscuvilhice de outros, do bota-abaixo só “porque sim”, dos miúdos que não sabem falar baixo, os gritos e dos risos despropositados, dos condutores irresponsáveis, da cobardia, dos medricas e dos merdosos, de tudo… e do nada!
Ao contrário do que cantavam os Depêche Mode, “I just can’t get enough”, … eu afirmo: “I just had enough”.
Mas que adianta ter consciência disso tudo e nada fazer? Vou continuar a lamúria? Que hei-de fazer para ultrapassar esta angústia que me consome?
Não sei o que se irá seguir, mas sei o que tenho de fazer!

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Wonderful World

Caldas da Rainha, 2008 Adelina Silva


Acordei com a música do Sam Cook na cabeça, ao som ritmado do toque nos dedos polegar e médio. Ta... Ta... Ta...

Don't know much about history
Don't know much biology
Don't know much about a science book
Don't know much about the French I took
But I do know that I love you
And I know that if you love me too
What a wonderful world this would be

Don't know much about geography
Don't know much trigonometry
Don't know much about algebra
Don't know what a slide rule is for
But I know that one and one is two
And if this one could be with you
What a wonderful world this would be

Now, I don't claim to be an "A" student
But I'm trying to be
For maybe by being an "A" student baby
I can win your love for me

Não me lembro se foi em resultado de algum sonho... em resultado de alguma realidade. Simplesmente, a música não me sai da cabeça. Povoa os meus pensamentos... recorda-me algumas situações... não me deixa esquecer algumas pessoas... Faz-me concentrar na minha realidade e que esta é a história da minha vida.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

You've got mail

Sempre que ligo o PC, imediatamente me ligo à internet e ao msn. É automático! O uso do messenger, para quem contacta diariamente com alunos, é quase que uma ferramenta imprescindível.Também os meus filhos usam o messenger.Ontem, ao ligar o PC, não me apercebi que o messenger tinha iniciado a sessão com a "conta" do meu filho. Às tantas começo a receber mensagens, de pessoas que desconhecia, com um conteúdo que definitivamente não me dizia nada... Reparei com mais atenção... a conversa girava à volta de algo que se tinha passado na escola, amores de adolescente, etc... Fiquei sem saber se deveria responder (mas dizer o quê) ou simplesmente ignorar (saindo). Optei pelo segundo.Meu Deus! Os anos passam e os problemas de adolescência continuam os mesmos. Todos passamos pelas mesmas dores de crescimento, de amores não correspondidos, do disse-que-disse ou que não-disse... Agora já não se mandam os recadinhos por bilhetes, discretamente metidos no bolso ou na mochila... Agora utilizam-se outros meios... msn ... sms .... enfim, na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.