segunda-feira, 29 de julho de 2013

Contemplação

Barcelona, 2013 © Adelina Silva


Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.

O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.

Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

terça-feira, 23 de julho de 2013

A Fonte

Roma, 2013 © Adelina Silva

Água a correr na fonte.
Uma quimera líquida que sai
Das entranhas do monte
A saber ao mistério que lá vai…

Pura, Branca, inodora e fria,
Cai numa pedra dura
E desfaz o mistério em melodia…

Miguel Torga

sábado, 20 de julho de 2013

A geometria é o meu lugar

Sintra, 2013 © Adelina Silva

(...)

Todo o silêncio me é música.

Toda a geometria é o meu lugar.

Todos os lugares
acordam no meu peito.

                                                                                                          José Fanha, in "O elogio dos peixes, das pedras e dos simples"

domingo, 14 de julho de 2013

...

Póvoa de Varzim, 2013 © Adelina Silva

"Tudo quanto o homem expõe ou exprime é uma nota à margem de um texto apagado de todo. Mais ou menos, pelo sentido da nota, tiramos o sentido que havia de ser o do texto; mas fica sempre uma dúvida, e os sentidos possíveis são muitos."
Fernando Pessoa

sábado, 6 de julho de 2013

A dança das máscaras ou a verdade da mentira

Bilbao, 2012 © Adelina Silva

No teatro, a verdade esquiva-se sempre. Nunca a encontramos por completo, mas é forçoso procurá-la. Essa busca é claramente aquilo que guia os nossos esforços. É essa a nossa tarefa. Na maioria das vezes é no escuro que tropeçamos na verdade, esbarramos nela, ou vislumbramos uma imagem ou uma forma que parece corresponder à verdade, muitas vezes sem nos darmos conta disso. Mas a verdade verdadeira é que, na arte do teatro, não há nunca uma verdade única que possamos encontrar. Há muitas. Estas verdades desafiam-se mutuamente, fogem, reflectem-se, ignoram-se, espicaçam-se, são insensíveis umas às outras. Às vezes pensamos que temos a verdade de um momento na mão, e depois ela escapa-se-nos por entre os dedos e desaparece.

Harold Pinter, in "Discurso de Aceitação do Prémio Nobel"