quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

E à Arte o Mundo Cria

Paris, 2012 ©  Adelina Silva

Seguro Assento na coluna firme
Dos versos em que fico,
Nem temo o influxo inúmero futuro
Dos tempos e do olvido;
Que a mente, quando, fixa, em si contempla
Os reflexos do mundo,
Deles se plasma torna, e à arte o mundo
Cria, que não a mente.
Assim na placa o externo instante grava
Seu ser, durando nela.
Ricardo Reis, in "Odes"

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A Ilusão do Migrante

Madrid, 2012 ©  Adelina Silva

Quando vim, se é que vim
de algum para outro lugar,
o mundo girava, alheio
à minha baça pessoa,
e no seu giro entrevi
que não se vai nem se volta
de sítio algum a nenhum.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Da distância e do futuro

Valencia, 2012 ©  Adelina Silva

Dá-se com os longes o que se dá com o futuro. Todo um mundo vago se abre à nossa alma, a nossa sensibilidade perde-se nele como o nosso olhar, e nós aspiramos, ah, a entregar todo o nosso ser, para que a volúpia de um sentimento grande, único, majestoso o encha completamente . - E, ai de nós, quando para lá corremos e o ali se torna aqui, tudo continua como dantes, e nós ficamos com a nossa pobreza e as nossas limitações, e a nossa alma suspira pelo conforto que lhe escapou.

Johann Wolfgang von Goethe, in "Werther"



domingo, 13 de janeiro de 2013

Eu desconfiava

Paris, 2012 ©  Adelina Silva

Ninguém é igual a ninguém.
Todo o ser humano é um estranho
ímpar.

Carlos Drummond de Andrade, in "A Paixão Medida"



quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Convite à Glória

Madrid, 2012 ©  Adelina Silva

Diálogo entre D. Quixote e Sancho Pança:

— Juntos na poeira das encruzilhadas conquistaremos a glória.
— E de que me serve?
— Nossos nomes ressoarão nos sinos de bronze da História.
— E de que me serve?
— Jamais alguém, nas cinco partidas do mundo será tão grande.
— E de que me serve?
— As mais inacessíveis princesas se curvarão à nossa passagem.
— E de que me serve?
— Pelo teu valor e pelo teu fervor terás uma ilha de ouro e esmeralda.
— Isto me serve.

Carlos Drummond de Andrade, in " As Impurezas do  Branco"