domingo, 30 de novembro de 2008

Agora no meu quarto

Barcelona, 2008 Adelina Silva

Oh meu Amor
encontrei-Te novamente
saí
para ir buscar um maço de cigarros
e ali estavas Tu
Curvei-me diante de toda a gente
e toda a gente rejubilou comigo
Perdi-me
nos olhos de um cão
que Te amou
O calor ergueu-me
O trânsito atirou comigo
nu para cima da cama
com um livro sobre Ti
e uma garrafa de água fria
Leonard Cohen, in "Livro do Desejo"

sábado, 29 de novembro de 2008

Onde estás?

Barcelona, 2008 Adelina Silva

Dizes que repito
Algo que disse antes. Vou dizê-lo de novo.
Digo-o de novo? A fim de lá chegares,
De chegares onde estás, de saíres de onde não estás,
Tens de seguir um caminho por onde não há êxtase.
A fim de chegares àquilo que não sabes
Tens de seguir um caminho que é o caminho da ignorância.
A fim de possuíres o que não possuis
Tens de seguir o caminho do despojamento.
A fim de chegares àquilo que não és
Tens de seguir pelo caminho em que não és.
E aquilo que não sabes é a única coisa que sabes
E aquilo que tens é o que não tens
E onde estás é onde não estás.

T. S. Eliot, in “Quatro Quartetos”

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Passeig de Gràcia

Barcelona, 2008 Adelina Silva
Río con menosprecio de la gloria.
Porque la gloria ¿qué es? Sólo un recuerdo. Amarrar a la tierra uno su nombre para que quede alzado firmemente
Cuando el viento del tiempo va pasando.
Si la gloria es recuerdo ¿vale, acaso, un nombre sin un cuerpo en el futuro? Si uno vive en su vida únicamente
Y uno muere a su vida cuando muere,
La gloria ¿para qué? También la tierra, como otro cuerpo más, morirá un día. Y tienen que pudrirse en su cadáver
Los nombres. Todo olvido para siempre. Río con menosprecio de mí mismo.
J.M. Fonollosa, in "Ciudad del Hombre: Barcelona"

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Há Mulheres como eu

Peniche, 2008 Adelina Silva
Há cidades cor de pérola onde as mulheres
existem velozmente. Onde
às vezes param, e são morosas
por dentro. Há cidades absolutas,
trabalhadas interiormente pelo pensamento
das mulheres.
Lugares límpidos e depois nocturnos,
vistos ao alto como um fogo antigo,
ou como um fogo juvenil.
Vistos fixamente abaixados nas águas
celestes.
Há lugares de um esplendor virgem,
com mulheres puras cujas mãos
estremecem. Mulheres que imaginam
num supremo silêncio, elevando-se
sobre as pancadas da minha arte interior.
Herberto Hélder

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Para ti

Certas palavras podem dizer muitas coisas;
Certos olhares podem valer mais do que mil palavras;
Certos momentos nos fazem esquecer que existe um mundo lá fora;
Certos gestos, parecem sinais guiando-nos pelo caminho;
Certos toques parecem estremecer todo nosso coração;
Certos detalhes nos dão certeza de que existem pessoas especiais,
Assim como você, que deixarão belas lembranças para todo o sempre.
Vinicius de Moraes

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Nas asas de um sonho

Póvoa de Varzim, 2008 Adelina Silva
Nunca é tarde para viver os sonhos.
Paulo Coelho, in "Crónica - Começar aos 70 anos"




sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Sabedoria

Porto, 2008 Adelina Silva

toda a ignorância escorrega para o saber
e de novo se arrasta para a ignorância:
mas o inverno não é para sempre, mesmo a neve
derrete; e se a primavera estragar o jogo, que fazer?
e.e.cummings, in "xix poemas"

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Dar tempo ao tempo

Póvoa de Varzim, 2008 Adelina Silva

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Ruptura

Póvoa de Varzim, 2008 Adelina Silva
nada é mais exactamente terrível do que
estar sozinho em casa, com alguém e
com alguma coisa
e. e. cummings, in xix poemas

sábado, 15 de novembro de 2008

A minha vida

A minha vida em túnicas

Passado um tempo
Não sabes dizer
Se é faltar-te
Uma mulher
Ou precisares
De um cigarro
E mais tarde
Se é noite
Ou dia
Então subitamente
Percebes
O momento
Vestes-te
Vais para casa
Acendes um
Casas-te

Leonard Cohen, in Livro do Desejo

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Reviver o Passado… com os olhos no presente

Estreou ontem nos cinemas o filme “Reviver o Passado em Brideshead”. Lembro-me de ter acompanhado a série há uns 25 anos atrás e de me ter encantado Charles Ryder (Jeremy Irons) e de me ter identificado com a Júlia. Na altura estava numa fase em que adorava ler romances da segunda guerra mundial, e esta história passava-se precisamente nos anos 40, numa Inglaterra aristocrática e em Oxford. O então oficial do exército inglês Charles Ryder recordava os tempos que tinha vivido em Brideshead como amigo e hóspede da família de Sebastian (colega universitário e irmão de Júlia) e do triângulo amoroso gerado.
Na minha saga de reviver o passado, pensando no presente, lembrei das “Pontes de Madison County”. O livro é de uma ternura comovente. Robert Kincaid e Francesca, uma mulher casada e com dois filhos, não estavam à procura de qualquer reviravolta nas suas vidas. Cada um já tinha chegado a um ponto da vida em que as expectativas pertenciam ao passado. Contudo, quatro dias depois de se conhecerem … o desejo e a paixão acontecem. Atraídos um pelo outro, partilham o amor pela beleza, pela aventura – as experiências dele são reais, enquanto que as dela existiram até então somente em seus sonhos. A atracção é intelectual, emocional e física, transcendendo todas as barreiras da moralidade e convenção.
Com sorte, mais cedo ou mais tarde, um amor destes acontece na vida de cada um. Para Robert e Francesca foi tarde, pois esta, por falta de coragem, não cede ao impulso de abandonar a família e fugir com Robert, pondo fim ao casamento e afastando-se dos filhos. Mas foi glorioso, porque vivido intensamente por ambos!
Pergunto-me, porque não? Será reprovável apercebermo-nos que alguém ainda nos dá atenção e que essa atenção pode ser retribuída? Será que nos temos de anular e viver em função de uma família?

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Luar outonal

Algures no céu, 2008 Adelina Silva

domingo, 9 de novembro de 2008

O meu inferno

Póvoa de Varzim, 2008 Adelina Silva

“O inferno dos vivos não é uma coisa que virá a existir; se houver um, é o que já está aqui, o inferno que habitamos todos os dias, que nós formamos ao estarmos juntos. Há dois modos para não o sofrermos. O primeiro torna-se fácil para muita gente: aceitar o inferno e fazer parte dele a ponto de já não o vermos. O segundo é arriscado e exige uma atenção e uma aprendizagem contínuas: tentar e saber reconhecer, no meio do inferno, quem e o que não é inferno, e fazê-lo viver, e dar-lhe lugar”.

Italo Calvino, in “As Cidades Invisíveis”

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O primeiro amor

- Mãe, preciso de falar contigo em particular.
Pelo seu ar tão compenetrado, a conversa era séria. Pensei logo que fosse algo relacionado com escola: TPCs por fazer, fichas de avaliação com uma nota abaixo das suas expectativas...
Então, olhando-me nos olhos foi dizendo:
- Sabes que há uma menina na minha sala de quem gosto... Escrevi um bilhete que vou pôr amanhã na sua mochila. Queria que o lesses e me desses a tua opinião.
Lá fui dizendo que não sei se deveria ler o que ele tinha escrito, pois isso é muito pessoal, ao mesmo tempo que me lembrava do meu primeiro amor, e de como teria gostado que me tivesse escrito o quanto gostava de mim.
Insistiu. - Por favor, lê!, estendendo-me o papel.
Li.
Surpreendeu-me a sua candura e a forma como expressava os seus sentimentos... Como deve ter pensado na forma como os expôr e de se expôr...
O meu filho é um corajoso. Não foge aos seus sentimentos.
A poucos dias do seu aniversário (18 de Novembro) a sua melhor prenda seria a atenção do seu primeiro amor!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Fala comigo

ELE MURMURA:
deixemos o sonho para quando os corpos se perderem
no excesso das imagens ou na sua imitação
eles simulam o amor

um olhar rápido pelo lugar abandonado
pressente-se ainda a fuga dos corpos
na aragem que limpa a casa
a memória poderá reconstruir tudo a partir das imagens
e do intenso cheiro a mato
por agora nada mais é visível
azul e mais azul e nenhuma mudança na paisagem
nenhum vestígio

as luzes apagaram-se o material foi guardado
o lugar adormece por baixo do bolor imutável
e no esquecimento
os actores caminham para o fim do filme

um gravador esquecido
regista os passos que se afastam devagar
não sabemos ao certo para onde

Al Berto, in “Trabalhos do Olhar”, 1976/82: Filmagens, 1980/81

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Difícil de entender(-te)

Talvez por não saber falar de cor, imaginei
Talvez por saber o que não será melhor, aproximei
Meu corpo é o teu corpo, o desejo entregue a nós...sei lá eu o que queres dizer.
Despedir-me de ti, "Adeus, um dia, voltarei a ser feliz."
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor não sei o que é sentir.
Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de entender.
Talvez por não saber falar de cor, imaginei.
Triste é o virar de costas, o último adeus sabe Deus o que quero dizer.
Obrigado por saberes cuidar de mim, tratar de mim, olhar para mim...
Escutar quem sou e se ao menos tudo fosse igual a ti...
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor não sei o que é sentir.
Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de entender.
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor não sei o que é sentir.
Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de entender.
É o amor que chega ao fim.
Um final assim, assim é mais fácil de entender...
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor não sei o que é sentir.
Se por falar, falei, pensei que se falasse é mais fácil de entender.
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor não sei o que é sentir.
Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de entender.

Gift

domingo, 2 de novembro de 2008

Outras feridas

Troia, 2008 Adelina Silva

traços de répteis incandescentes pelas dunas, hastes quebradas, excrementos geométricos sinalizando com rigor apertados caminhos
areias de cor indecisa
são bons estes lugares de cinza, para a solidão insuspeita dos pássaros
(...)

Al Berto, in Vigílias

sábado, 1 de novembro de 2008

Naufragar na praia

Comporta, 2008 Adelina Silva