quinta-feira, 23 de maio de 2013

A felicidade é um túnel


Valladolid, 2013 © Adelina Silva

          o domínio
o erotismo do domínio
          do domínio irrisório
                          mas enorme

submeter
ver tremer
ver o tremor do outro

            vencer
                     o gelo
                     o desdém
                                  veloz

a felicidade é um túnel

Ana Hatherly, in "Um Calculador de Improbabilidades"

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Vozes

Magaluff, 2011 © Adelina Silva

Vozes do mar, das árvores, do vento!
Quando às vezes, n'um sonho doloroso,
Me embala o vosso canto poderoso,
Eu julgo igual ao meu vosso tormento...
(...)

Antero de Quental, in "Sonetos"

sábado, 11 de maio de 2013

Passagem

Paris, 2012 © Adelina Silva

(...)
Acenderam as luzes, cai a noite, a vida substitui-se.
Seja de que maneira for, é preciso continuar a viver.
Arde-me a alma como se fosse uma mão, fisicamente.
Estou no caminho de todos e esbarram comigo.
Minha quinta na província,
Haver menos que um comboio, uma diligência e a decisão de partir entre mim e ti.
Assim fico, fico... Eu sou o que sempre quer partir,
E fica sempre, fica sempre, fica sempre,
Até à morte fica, mesmo que parta, fica, fica, fica...
(...)

Álvaro de Campos, in "Poemas"

segunda-feira, 6 de maio de 2013

O ciclo do cavalo

Paris, 2012 © Adelina Silva

Onde mora a memória obscura, onde
esse cavalo persiste como um relâmpago de pedra,
onde o corpo se nega, onde a noite ensurdece,
caminho sobre pedras na minha casa pobre.

Não conheço esse lago, não fui a esse país.
Mas aqui é um termo ou um princípio novo.
Com a baba do cavalo, com os seus nervos mais finos
reconstruí o corpo, silenciei os membros.

Não se estancou a sede, no mesmo caos de agora,
mas a língua rebenta, as vértebras estalam
por uma nova língua, por um cavalo que una

a terra à tua boca, e a tua boca à água.
António Ramos Rosa, in "Antologia Poética"

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Fascinação

 Paris, 2012 © Adelina Silva

Os sonhos mais lindos, sonhei
De quimeras mil, um castelo ergui
E no teu olhar tonto de emoção
Com sofreguidão mil venturas previ
(...)
Mas, um destino mau certo dia chegou
E sem o teu meu coração ficou.
Hoje, sombra sou do que fui,
Minhas ilusões o destino levou.
Nada mais existe desde que partiste
E em meu coração só saudade ficou.
Vivo com o passado a sonhar,
Vendo-te, ainda, em meu coração.
Mas tudo promessas, quimeras, mentiras
Da tua fascinação.
F. D. Marchetti e M. de Feraudy