domingo, 18 de abril de 2010

O Jogo

Póvoa de Varzim, 2010 © Adelina Silva

Eu, sabendo que te amo,
e como as coisas do amor são difíceis,
preparo em silêncio a mesa
do jogo, estendo as peças
sobre o tabuleiro, disponho os lugares
necessários para que tudo
comece: as cadeiras
uma em frente da outra, embora saiba
que as mãos não se podem tocar,
e que para além das dificuldades,
hesitações, recuos
ou avanços possíveis, só os olhos
transportam, talvez, uma hipótese
de entendimento. É então que chegas,
e como se um vento do norte
entrasse por uma janela aberta,
o jogo inteiro voa pelos ares,
o frio enche-te os olhos de lágrimas,
e empurras-me para dentro, onde
o fogo consome o que resta
do nosso quebra-cabeças.
Nuno Júdice, in "A Fonte da Vida"

3 comentários:

mfc disse...

Fazes uma boa fotografia de um acontecimento banal...

Rui Areal disse...

...ou de um acontecimento banal uma boa fotografia...

Remus disse...

Este jogo é moderno... Ou será que a pedra é para atirar ao adversário, quando as coisas começarem a correr mal? :-)