sábado, 15 de janeiro de 2011

A Porta

Guimarães, 2009 © Adelina Silva

Eu sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta.

Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado
Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de supetão
Pra passar o capitão.

Só não abro pra essa gente
Que diz (a mim bem me importa...)
Que se uma pessoa é burra
É burra como uma porta.

Eu sou muito inteligente!
Eu fecho a frente da casa
Fecho a frente do quartel
Fecho tudo nesse mundo

Só vivo aberta no céu!

Vinicius de Moraes, in "Poesia Completa e Prosa"

3 comentários:

mfc disse...

Uma aldraba do tempo em que as chaves ficavam nas portas...
Lindo!

Remus disse...

Para bater nesse batente, é preciso ter músculo.
:-)
Mas uma coisa é certa, ao contrário das campainhas de hoje, este nunca avaria.

micael disse...

Bate! Entra, não tenhas receio! É a porta da felicidade.