quinta-feira, 3 de março de 2011

Do que nada se sabe

Ciudad Rodrigo, 2009 ©Adelina Silva



A lua ignora que é tranquila e clara
E não pode sequer saber que é lua;
A areia, que é a areia. Não há uma
Coisa que saiba que sua forma é rara.
As peças de marfim são tão alheias
Ao abstracto xadrez como essa mão
Que as rege. Talvez o destino humano,
Breve alegria e longas odisseias,
Seja instrumento de Outro. Ignoramos;
Dar-lhe o nome de Deus não nos conforta.
Em vão também o medo, a angústia, a absorta
E truncada oração que iniciamos.
Que arco terá então lançado a seta
Que eu sou? Que cume pode ser a meta?


Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda"

4 comentários:

Arnaldo Macedo disse...

A seta está apontar para uma frase esculpida nas nuvens, que só duas pessoas unidas conseguem decifrar... Digo EU

mfc disse...

É para aquele lado?!
... vamos então!

Remus disse...

Para a direita é que é o caminho?
Não será antes em frente?
Vou imaginar que é a seta de cupido...
:-)

Poemas do País da Vida disse...

"Do que nada se sabe"
fica o tudo por dizer
mas o sentir que todos somos
não nos chega uma vida
pra viver.