segunda-feira, 16 de maio de 2011

Vale de México

Bombarral, 2010 © Adelina Silva


O dia desdobra seu corpo transparente. Atado à pedra solar, a luz bate-me com seus grandes martelos invisíveis. Não sou mais que uma pausa entre duas vibrações: o ponto vivo, o agudo, imóvel ponto fixo de intersecção de dois olhares que se ignoram e se encontram em mim. Pactuam? Sou o espaço puro, o campo de batalha. Vejo através de meu corpo meu outro corpo. A pedra cintila. O sol arranca-me os olhos. Em minhas órbitas vazias dois astros alisam suas plumas vermelhas. Esplendor, espiral de asas, bico feroz. E agora, meus olhos cantam. Inclina-te sobre seu canto, lança-te à fogueira.
Octávio Paz, in “Antologia Poética”

3 comentários:

Remus disse...

Este ângulo transforma a escultura/estátua numa obra enigmática.
Bom controlo da luminosidade e originalidade no enquadramento.
Parabéns.

mfc disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
mfc disse...

Que é?! Não importa!
Faz-nos pensar... e isso é que conta!