sábado, 23 de junho de 2012

Pêndulo de Foucault

Valencia, 2012 © Adelina Silva


Foi então que vi o Pêndulo.
A esfera, móvel na extremidade de um longo fio fixado à abóbada do coro, descrevia suas amplas oscilações em isócrona majestade.
(...)
Naquele momento, às quatro da tarde de 23 de junho, o Pêndulo amortecia a própria velocidade numa extremidade do plano de oscilação, para recair indolente em direção ao centro, readquirir velocidade a meio do percurso e desferir seus golpes de sabre confidentes no quadrado oculto das forças que o destino lhe apontava. Se eu permanecesse muito tempo, resistente ao passar das horas, a fixar aquela cabeça de pássaro, aquele ápice de lança, aquele elmo emborcado, enquanto desenhava no vazio as suas diagonais, aflorando os pontos opostos de sua astigmática circunferência, teria sido vítima de uma ilusão fabulatória, pois o Pêndulo me levaria a crer que o plano de oscilação teria realizado uma rotação completa, tornando ao ponto de partida, em trinta e duas horas, descrevendo uma elipse achatada - elipse que girasse em torno de seu próprio centro com uma velocidade angular uniforme, proporcional ao seno da latitude.
Umberto Eco, in "O Pêndulo de Foucault"


Valencia, 2012 © Adelina Silva

5 comentários:

Rute disse...

Uau! Adorei as imagens!
confesso que o último livro que li do Umberto eco foi "O Nome da Rosa"...mea culpa...

1 bj

PAULO | PHOTOS disse...

grande reflexo!...

João Mourão disse...

A primeira foto representa um ideal de abstração sublime. Está muito boa esta imagem.

mfc disse...

A contagem impertinente do tempo...

Surpreendes-me com estas fotos quase tiradas do nada!
liiiindas...!

Remus disse...

Adorei particularmente a forma como os reflexos ficaram captados na bola.

Tive que ir pesquisar o que era o «Pêndulo de Foucault», porque não fazia a mínima ideia do que era.
:-)