segunda-feira, 15 de abril de 2013

O pássaro verde da minha pena

Barcelona, 2013 ©  Adelina Silva

(...)
Não abri a porta da gaiola
porque não havia gaiola,
mas com mãos trémulas de esperança
fui buscar o Pássaro Azul
ao fundo da alma,
e abri as mãos
para que houvesse em todas as casas
uma flor, uma estrela, um pássaro a cantar.
Murcharam, porém, todas as flores,
apagaram-se todas as estrelas,
e o Pássaro Azul,
azul como o azul do arco-íris,
ficou frio e cinzento,
um Pássaro Cinzento
como um pássaro de lua.
Então as mãos,
aquelas mãos trémulas de esperança,
tomaram a forma de tépidas conchas,
de pequenos ninhos de calor,
e o verde,
o verde indeciso das marés,
cobriu de esperança as suas penas.
Era agora um Pássaro Verde,
verde e triste.
Então lágrimas lentas o envolveram,
pesada chuva de alma,
e o pássaro ficou branco.
Era agora um Pássaro Branco,
silencioso e triste.
Como um vento furioso,
a Ira sacudiu as raízes da alma,
da alma onde outrora
morava o Pássaro Azul,
mas o Pássaro Branco
era agora vermelho,
um Pássaro Vermelho e assustado,
pesado de solidão.
(...)
Fernanda de Castro, in «A Ilha da Grande Solidão»

1 comentário:

Remus disse...

Coitado. Ele tem coleira como os gatos e cães? Tem que voar com aquele metal todo ao pescoço?

Em Barcelona, vida de periquito (se não é, é um primo) não é fácil.
:-)