Porto, 2015 © Adelina Silva
Os devotos
painéis dos antigos conventos,
Reproduzindo
a santa imagem da Verdade,
Davam certo
conforto aos sóbrios monumentos,
Tornavam
menos fria aquela austeridade.
Olhos fitos
em Deus, nos santos mandamentos,
Mais de um
monge alcançou palma de santidade,
A' Morte
consagrando obras e pensamentos
Numa vida
de paz, de labor, de humildade.
Minh'alma é
um coval onde, monge maldito,
Desde que
existe o mundo, aborrecido, habito,
Sem ter um
só painel que possa contemplar...
— O' monge
mandrião! se quer's viver, contente,
uma vida de
paz, não seja indolente;
Caleja-me
essas mãos, trabalha! vai cavar!
Charles
Baudelaire, in "As Flores do Mal"
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