sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Lembrar e ser lembrado

Lisboa, 2015 © Adelina Silva




Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos —

Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado

Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer

Uma estrela a se apagar na treva

Um caminho entre dois túmulos —

Por isso precisamos velar

Falar baixo, pisar leve, ver

A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:

Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez de amor

Uma prece por quem se vai —

Mas que essa hora não esqueça

E por ela os nossos corações

Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre

Para a participação da poesia

Para ver a face da morte —

De repente nunca mais esperaremos...

Hoje a noite é jovem; da morte, apenas

Nascemos, imensamente.

Vinicius de Moraes

Em memória do meu amigo André (f. - 11.12.2015)

4 comentários:

Arnaldo Macedo disse...

Eu que sonho na horizontal e na vertical….
Eu que tenho os braços longos para que a minha alma possa abraçar as nuvens…
Eu que digo que nós não somos mortais, mas sim criaturas recicladas…
A noite vai continuar jovem na companhia das maçãs aladas…
Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados…


micael disse...

Belos versos de Vinicius de Moraes em memória do seu amigo André.

micael disse...

Boas Festas para ti, Adelina. Faço votos para que tenhas uma bela quadra festiva cheia de alegria e amor ao pé da tua família e amigos.

Adelina Silva disse...

Olá Micael. Também conheceu o André. Foi diretor na Escola. Infelizmente deixou-nos.