segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Perenidade

Porto, 2009 © Adelina Silva
O que mais me intriga e dói na nossa morte, como vemos na dos outros, é que nada se perturba com ela na vida normal do mundo. Mesmo que sejas uma personagem histórica, tudo entra de novo na rotina como se nem tivesses existido. O que mais podem fazer-te é tomar nota do acontecimento e recomeçar. Quando morre um teu amigo ou conhecido, a vida continua natural como se quem existisse para morrer fosses só tu. Porque tudo converge para ti, em quem tudo existe, e assim te inquieta a certeza de que o universo morrerá contigo. Mas não morre. Repara no que acontece com a morte dos outros e ficas a saber que o universo se está nas tintas para que morras ou não. E isso é que é incompreensível - morrer tudo com a tua morte e tudo ficar perfeitamente na mesma. Tudo isto tem significado para o teu presente.

Vergílio Ferreira, in "Escrever"

2 comentários:

Remus disse...

Fiquei completamente viciado na nesta música. Obrigado por me dar a conhecer. Aliás, até já ouvi as músicas todas do álbum deste artista. É mesmo muito bom!
Obrigado!

mfc disse...

Somos absolutamente estóicos a suportar a dor dos outros!