segunda-feira, 22 de março de 2010

Inevitabilidade

Avintes, 2010 © Adelina Silva

quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.

quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não

tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.

Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"

2 comentários:

Remus disse...

:-(
Eu prefiro pensar, que ele está a pegar no pinto, para o levar para a cama....

mfc disse...

A morte é necessária para a perpetuação da renovação.