quarta-feira, 21 de julho de 2010

O Velho e o Pássaro

Porto, 2010 © Adelina Silva

- Que idade tens? - perguntou-lhe o velho. - É a tua primeira viagem?
O pássaro fitou-o, enquanto ele lhe falava. Estava tão cansado que nem examinava a linha, e tremia nas delicadas patas enclavinhadas nela.
- Está tesa, tesa demais - disse o velho. - Não devias estar tão cansado, depois de uma noite sem vento. No que estarão dando os pássaros? "Os falcões, pensou, que saem ao largo, ao encontro deles". Mas nada disto disse ao pássaro, que de resto não sabia entendê-lo e não tardaria a aprender quem os falcões eram.
- Repousa à vontade, passarito. E, depois, vai, e vive a tua vida, como os homens, os pássaros e os peixes.
Deu-lhe coragem a conversa, porque as costas haviam ficado dormentes de noite e lhe doíam, agora, de verdade.
- Fica em minha casa, se preferes, ó pássaro. Tenho pena de não poder içar a vela e levar-te com a aragem que se está levantando. Mas estou com um amigo.

Ernest Hemingway, in "O Velho e o Mar"

2 comentários:

mfc disse...

Os solilóquios do Velho ainda hoje me acompanham.
O E.H. era capaz de ser extremo nos sentimentos e emoções que retratava...

Remus disse...

Acha bem estar a chamar ao senhor de velho?!
;-)

Bem vistas as coisas, ele parece é uma criança, tal é o ar de satisfação e de admiração. ;-)
Bom momento!