domingo, 13 de fevereiro de 2011

Domingo

Porto, 2010 © Adelina Silva

Ficou-lhe a paz. Do tempo
em que, movido o olhar à santidade,
parávamos no campo vendo
correr a água e adubar-se o caule
que abrirá sua roda de sustento
à fadiga do homem, que uma coroa de aves
reconhece no ar, de estar aberto
à cálida saúde da passagem.
Depois da missa, pelo domingo adentro,
crescia esta saudade
fresquíssima de estarmos tão atentos
à tarefa que, sem nós, a tarde
cumpre na terra. E mesmo ao pensamento
que amadurece nas árvores,
tocadas longe, no estremecimento
que se enreda por nós e em nós se abre.
Ficou-lhe a paz. O doce movimento

que nos inclina para a primeira idade.

Fernando Echevarria

3 comentários:

Arnaldo Macedo disse...

...No vigésimo século as nuvens são árvores
e os pássaros mais pequenos grandes paquidermes...
ANTÓNIO MARIA LISBOA

mfc disse...

Sinapses...

Remus disse...

Ainda vejo duas folhas resistentes, que serão os últimos soldados a sucumbir ao poder do Inverno.
Muito boa!
Muito bela!