domingo, 19 de agosto de 2012

Ontem à tarde

Bilbao, 2012 © Adelina Silva

Ontem à tarde um homem das cidades
Falava à porta da estalagem.
Falava comigo também.
Falava da justiça e da luta para haver justiça
E dos operários que sofrem,
E do trabalho constante, e dos que têm fome,
E dos ricos, que só têm costas para isso.
E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia
O ódio que ele sentia, e a compaixão
Que ele dizia que sentia.
(...)
Eu no que estava pensando
Quando o amigo de gente falava
(E isso me comoveu até às lágrimas),
Era em como o murmúrio longínquo dos chocalhos
A esse entardecer
(...)
E o homem calara-se, olhando o poente.
Mas que tem com o poente quem odeia e ama?


Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXXII"

5 comentários:

Remus disse...

Ele já está com aquela expressão de quem já está a desesperar de tanto estar à espera.
:-)

Momento muito bem retratado, mas acho que a Adelina não devia ter cortado o pé ao homem. ;-)

Fábio Martins disse...

Eu acho que ele estava a ligar para o apoio à TMN e deixaram-lhe a ouvir aquelas musicas irritantes enquanto se espera :o)

Tal como o Remus falou e bem, o pé fazia falta ao homem dona Adelina :)
mas gostei

Rute disse...

Mas como é que vocês sabem se o pé do homem valia alguma coisa para ser fotografado?!...;) Ah pois é...We never know...

bonito poema muito bem associado à imagem.

1 bj

Remus disse...

@Rute:
Pois. Provavelmente não valia nada.
Mas a Rute parece que ficou toda entusiasmada com o resto do homem.
:-P

mfc disse...

O inseparável telemóvel que nenhuma falta nos fazia aqui há uns anos atrás!

... mas uma óptima foto.