quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Passa, ave, passa...

Póvoa de Varzim, 2014 © Adelina Silva

Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rasto, 
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão. 
A ave passa e esquece, e assim deve ser. 
O animal, onde já não está e por isso de nada serve, 
Mostra que já esteve, o que não serve para nada. 
A recordação é uma traição à Natureza, 
Porque a Natureza de ontem não é Natureza. 
O que foi não é nada, e lembrar é não ver. 
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar! 


Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLIII" 


Sem comentários: