domingo, 24 de maio de 2015

A emergência do caos

Lisboa, 2015 © Adelina Silva

Seguindo os princípios científicos, a teoria

da catástrofe integra o caos, como realidade,

no mundo da ordem e do previsível. Se

encho uma taça com vinho

espumante, e olho para o que se passa

dentro do líquido, as súbitas erupções de

bolhas em pontos em que o líquido parecia

inalterável, são uma amostra do que pode

suceder, a cada instante, no cosmos. Aquele

astro que brilha à nossa vista, esfumar-se-á

de súbito caso um buraco negro o sorva; e

aquele cume de ilha, algures no Pacífico, com

a verdura exuberante de uma vegetação

que se assemelha ao desenho de um hábil

explorador, pode explodir numa erupção vulcânica

que nada faria prever. Deste modo, diz-nos a Teoria,

o caos está aqui, na ponta dos dedos, e talvez

algo possa acontecer quando, ao chegar

ao fim do poema, ponho um ponto final,

isto é, um ponto que me parecia final antes

que um erro do teclado, no computador, apague

tudo o que escrevi, e me confirme a exactidão

da catástrofe já não como teoria, mas como

pura realidade.


Nuno Júdice, in "O Fruto da Gramática"


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