terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Travessia


Porto, 2011© Adelina Silva

Duas velhas bacias sobrepondo
suas bordas de mármore redondo.
Do alto a água fluindo, devagar,
sobre a água, mais em baixo, a esperar,

muda, ao murmúrio, em diálogo secreto,
como que só no côncavo da mão,
entremostrando um singular objeto:
o céu, atrás da verde escuridão;

ela mesma a escorrer na bela pia,
em círculos e círculos, constante-
mente, impassível e sem nostalgia,

descendo pelo musgo circundante
ao espelho da última bacia
que faz sorrir, fechando a travessia.

Rainer Maria Rilke

5 comentários:

Fábio Martins disse...

Uma no sentido oposto da outra. Foi um bom reparo Adelina :) *

mfc disse...

Um vai e vem incessante!
... assim é a vida!

Remus disse...

Como dois conhecidos que se encontram na rua. Cumprimentam-se e cada um segue a sua vida.

Pierre BOYER disse...

I love those boats...
Best regards,

Pierre

João Farinha disse...

Gosto particularmente do contraste entre as cores fortes do barco e os tons suave do rio.