sexta-feira, 11 de maio de 2012

O Ser entre o Interior e o Exterior

Póvoa de Varzim, 2006 © Adelina Silva


Era um tipo estranho. Digo bem «um tipo». Olho um homem, uma mulher, e nem sempre me é possível tentar sequer abordar-lhe a pessoa por dentro. Porque há indivíduos que irresistivelmente reduzimos a «objectos». São os indivíduos «característicos» com tiques, com uma aparência de traços nítidos. Compreendo a tentação da caricatura: a um olhar sem mistério, os homens são a caricatura do homem. Por isso o romance tem ignorado a outra zona. Ah, escrever um romance que se gerasse nesse ar rarefeito de nós próprios, no alarme da nossa própria pessoa, na zona incrível do sobressalto! Atingir não bem o que se é «por dentro», a «psicologia», o modo íntimo de se ser, mas a outra parte, a que está antes dessa, a pessoa viva, a pessoa absoluta. Um romance que ainda não há... Porque há só ainda romances de coisas - coisas vistas por fora ou coisas vistas por dentro. Um romance que se fixasse nessa iluminação viva de nós, nessa dimensão ofuscante do halo de nós...

Vergílio Ferreira, in  " Estrela Polar"

3 comentários:

Fábio Martins disse...

Será que "esse" também é um buda ou tem outro nome? Gosto da imagem e da escolha a preto e branco. Bonito olhar. Beijinho

Remus disse...

São tantas, que eu num primeiro olhar até pensei que seria um reflexo.
:-)

Uma fotografia a preto e branco, em que o nível de contraste, na minha modesta opinião, está muito bem equilibrado.

mfc disse...

Um olhar diferente e incomum para um sítio por onde passamos imensas vezes!