quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Fala comigo

ELE MURMURA:
deixemos o sonho para quando os corpos se perderem
no excesso das imagens ou na sua imitação
eles simulam o amor

um olhar rápido pelo lugar abandonado
pressente-se ainda a fuga dos corpos
na aragem que limpa a casa
a memória poderá reconstruir tudo a partir das imagens
e do intenso cheiro a mato
por agora nada mais é visível
azul e mais azul e nenhuma mudança na paisagem
nenhum vestígio

as luzes apagaram-se o material foi guardado
o lugar adormece por baixo do bolor imutável
e no esquecimento
os actores caminham para o fim do filme

um gravador esquecido
regista os passos que se afastam devagar
não sabemos ao certo para onde

Al Berto, in “Trabalhos do Olhar”, 1976/82: Filmagens, 1980/81

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