sábado, 15 de outubro de 2011

O Novo Homem


Burgos, 2010 © Adelina Silva

(...)
Perdão: acabou-se
a época dos pais.
Quem comia doce
já não come mais.
Não chame de filho
este ser diverso
que pisa o ladrilho
de outro universo.
Sua independência
é total: sem marca
de família, vence
a lei do patriarca.
Liberto da herança
de sangue ou de afeto,
desconhece a aliança
de avô com seu neto.
Pai: macromolécula;
mãe: tubo de ensaio,
e, per omnia secula,
livre, papagaio, sem memória e sexo,
feliz, por que não?
pois rompeu o nexo
da velha Criação,
eis que o homem feito
em laboratório
sem qualquer defeito
como no antigório,
acabou com o Homem.
Bem feito.

Carlos Drummond de Andrade, excerto do poema "O Novo Homem"


6 comentários:

Anónimo disse...

Lindas esculturas!
E bem retratadas...

Existe um Olhar disse...

Invulgares estas esculturas e tu soubeste tirar partido disso para nos deixares aqui um belo olhar.

mfc disse...

Não o vão deixar nascer...!

Gostei muito da forma como nos transmitiste esta ideia.

Remus disse...

Não conhecia estes elementos escultóricos.

Apesar do fundo (toda a envolvência) não ser visualmente das mais atractivas, a Adelina soube tirar o melhor partido da escultura, realçando a sua continuidade.

Helder Ferreira disse...

Escolheste um bom enquadramento! :)

D'Almeida disse...

Pronto, a malta da fotografia chega aqui e só comenta as imagens! Ó senhores! Ahahahahahahah!
Este poema é 'masterpiece'. A seguir a Vinícius, Drummond é mais um eleito. E estes não são da era digital:-), são da 'era das coisas para sempre'.