quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Há Mulheres como eu

Peniche, 2008 Adelina Silva
Há cidades cor de pérola onde as mulheres
existem velozmente. Onde
às vezes param, e são morosas
por dentro. Há cidades absolutas,
trabalhadas interiormente pelo pensamento
das mulheres.
Lugares límpidos e depois nocturnos,
vistos ao alto como um fogo antigo,
ou como um fogo juvenil.
Vistos fixamente abaixados nas águas
celestes.
Há lugares de um esplendor virgem,
com mulheres puras cujas mãos
estremecem. Mulheres que imaginam
num supremo silêncio, elevando-se
sobre as pancadas da minha arte interior.
Herberto Hélder

2 comentários:

bsh disse...

Maravilhoso!

http://desabafos-solitarios.blogspot.com/

Arnaldo Macedo disse...

a escrita é a minha primeira morada de silêncio


A escrita é a minha primeira morada de silêncio


a segunda irrompe do corpo movendo-se por trás das palavras


extensas praias vazias onde o mar nunca chegou


deserto onde os dedos murmuram o último crime


escrever-te continuamente... areia e mais areia


construindo no sangue altíssimas paredes de nada



esta paixão pelos objectos que guardaste


esta pele-memória exalando não sei que desastre


a língua de limos



espalhávamos sementes de cicuta pelo nevoeiro dos sonhos


as manhãs chegavam como um gemido estelar


e eu perseguia teu rasto de esperma à beira-mar



outros corpos de salsugem atravessam o silêncio


desta morada erguida na precária saliva do crepúsculo

Al Berto (1948 - 1997)
Coimbra (Portugal)