quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O sossego da escala

Porto, 2009 © Adelina Silva

Os homens em regra não sentem o escoar do tempo. Vivem em paz provisória. Nós, porém, ao chegar a uma escala, tínhamos a noção desse escoar, ao pesarem sobre nós os ventos alísios, sempre em marcha. Fazíamos lembrar o passageiro do rápido, saturado do ruído nocturno dos eixos, que pelos punhados de luz dissipados por detrás da janela adivinha o correr das campinas e das suas aldeias e domínios encantados, dos quais coisa nenhuma pode reter, visto achar-se em viagem. Também nós, animados por ligeira febre, os ouvidos ainda zunindo do ruído do voo, sentíamo-nos em andamento, apesar do sossego da escala. Assim nós, nós também, dávamo-nos conta de ser arrebatados para um destino desconhecido, através do espírito dos ventos, pelo pulsar dos nossos corações.

Antoine de Saint-Exupéry, in “Terra dos Homens”


1 comentário:

mfc disse...

"Paz provisória"... uma expressão curiosa.
Dá que pensar.