terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Fuga

Berlengas, 2008 Adelina Silva


Tenho pena e não respondo.
Mas não tenho culpa enfim
De que em mim não correspondo
Ao outro que amaste em mim.

Cada um é muita gente.
Para mim sou quem me penso,
Para outros - cada um sente
O que julga, e é um erro imenso.

Ah, deixem-me sossegar.
Não me sonhem nem me outrem.
Se eu não me quero encontrar,
Quererei que outros me encontrem?

Fernando Pessoa

1 comentário:

Anónimo disse...

Há dias em que também a mim me apetece fugir.
Quantas vezes por um motivo ou por outro, porque sim ou porque não, a única resposta parece estar na fuga. Mas a fuga é a metáfora da cobardia.

Gostei do poema.

Tópê