terça-feira, 26 de maio de 2009

Sabem quem eu sou?

Braga, 2009 © Adelina Silva
À minha frente, um grupo de mulheres de faces, testa e nariz besuntados com uma pasta amarela faziam-me lembrar índias em pé de guerra. Lançavam longas baforadas daquelas piriscas verdes fedorentas.
Eu era, no mínimo, um bom palmo mais alta do que elas, o que também acontecia em relação aos homens. Magros sem serem escanzelados, possuíam a mesma elegância e leveza de movimentos que eu sempre admirara no meu pai. Os meus sessenta quilos de peso e um metro e setenta e seis de altura faziam-me sentir gorda e pesada.
O modo como me olhavam, fixando-me o rosto e os olhos, sem me evitar, e sorrindo, era o pior de tudo. Um sorriso que eu não conseguia definir. Como um sorriso pode ser ameaçador!
Outros cumprimentavam-me com um aceno de cabeça. Saberiam quem eu era? Estariam todos à minha espera, como U Ba? Decidi fazer de conta que os não via. Não sabia como corresponder ao seu cumprimento e, de olhos postos numa longínqua meta imaginária, desci a rua principal o mais depressa que pude.

Jan-Philipp Sendker, in “Na Birmânia deixei o meu coração”

1 comentário:

mfc disse...

Temos tendência a tratar a diferença como exotismo, sem ao menos a tentarmos compreender.