quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Ilumina-se a Igreja


Lisboa, 2011 © Adelina Silva

Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia,
E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça...

Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso,
E as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro ...

O esplendor do altar-mor é o eu não poder quase ver os montes
Através da chuva que é ouro tão solene na toalha do altar...

Soa o canto do coro, latino e vento a sacudir-me a vidraça
E sente-se chiar a água no fato de haver coro...

A missa é um automóvel que passa
Através dos fiéis que se ajoelham em hoje ser um dia triste...
Súbito vento sacode em esplendor maior
A festa da catedral e o ruído da chuva absorve tudo
Até só se ouvir a voz do padre água perder-se ao longe
Com o som de rodas de automóvel...

E apagam-se as luzes da igreja
Na chuva que cessa ...

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"


5 comentários:

Roberto Machado Alves disse...

"Súbito vento sacode em esplendor maior".
Muito belo.
Obrigado por compartilhar tão lindas palavras e com uma foto muito apropriada.

Roberto, Rio de Janeiro

Remus disse...

O enquadramento escolhido e a ilusão de óptica, dá a sensação que a fotografia está inclinada.
Porém, em termos de controlo da exposição e de luminosidade, ela está bem conseguida tendo em conta a natureza do lugar.

mfc disse...

São arquitectonicamente concebidas para nos sentirmos pequenos nelas...

Arnaldo Macedo disse...

Chuva a bater na vidraça... Esta bela imagem a bater neste harmonioso texto....
Tens um magnifico blog de boas imagens, e sempre acompanhado de muitos bons textos...
Este admirador do teu blog. Deixa te ficar 750 Gramas de beijos

Helder Ferreira disse...

Estou como o Remus, parece inclinada, mas a iluminação está fantástica! :)